Aconteceu no SPTV, telejornal regional da Globo, em São Paulo. O repórter Márcio Canuto entrevistava um fã cearense de Madonna, na frente do hotel em que a cantora encontra-se hospedada, na capital paulista. Ao saber que o rapaz perdera seu trabalho para assistir ao show da cantora, Canuto indagou: "E o emprego?". "Que se foda!" - respondeu o entrevistado. Ato contínuo, o corpulento repórter desferiu uma lapada na orelha do desbocado, fazendo-o, inclusive, bater a cabeça no tronco de uma palmeira imperial. Clique abaixo e assista.
sábado, 20 de dezembro de 2008
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
PORQUE A FOLHA É O QUE É: UM JORNALÃO INDIGNO, TORPE E DESPREZÍVEL
Leia com atenção esta notícia sobre a taxa de desemprego - que acabou de ser publicada pelos pulhas da Barão de Limeira - e aprenda a distorcer a realidade.
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Vamos copiar a matéria, tal e qual está na Folha Online. Os grifos são nossos e os comentários estão em marrom.
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Taxa de desemprego sobe para 7,6% em novembro, diz IBGE
CIRILO JUNIOR
da Folha Online, no Rio
Atualizado às 9h22
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A taxa de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas do Brasil teve pequeno avanço em novembro, ficando em 7,6%, acima dos 7,5% verificados no mês anterior, informou nesta sexta-feira o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em relação a outubro do ano passado (8,2%), o índice recuou 0,6 p.p. (ponto percentual). (embora o índice tenha variado para cima em espantoso 0,1% de um mês para o outro, a variação anual foi negativa em percentual seis vezes maior; o título da matéria, então, é uma descomunal sem-vergonhice jornalística)
É o melhor resultado para um mês de novembro desde o início da série, em 2001. O resultado marca, no entanto, a primeira alta do índice desde julho deste ano, quando a taxa estava em 8,1%. (os pulhas só vão admitir que o cenário é favorável no segundo parágrafo; ainda assim, recorrem ao tradicional recurso do "no entanto" para desqualificar imediatamente o caráter alvissareiro da informação)
Já o rendimento médio real dos trabalhadores ocupados teve alta de 0,9% frente a outubro, ficando em R$ 1.273,60. Na comparação com igual período em 2007, foi constatada alta de 4%. (nesse quesito, mais dois índices positivos; qual é mesmo o título da reportagem?)
O contingente de desocupados totalizou 1,8 milhão de pessoas no total das regiões pesquisadas. Isso indica estabilidade em relação a outubro e redução de 6,1% na comparação com novembro de 2007. (veja que interessante: o desemprego "subiu", mas o número de desempregados diminuiu...)
A população ocupada somou 22,1 milhões de pessoas também ficou estável nas seis regiões metropolitanas pesquisadas. Na comparação com novembro de 2007, houve expansão de 2,9%. (mais interessante ainda: há mais gente "ocupada" hoje do que havia um ano atrás; entendeu?)
REPÓRTER DO ESTADÃO É ESGOELADO NA CÂMARA
O repórter Sérgio Gobetti, do jornal O Estado de S. Paulo, foi agredido, ontem, 18, por um policial legislativo da Câmara dos Deputados quando entrava no Plenário para acompanhar as votações do dia. Embora usasse o crachá, um dos policiais o questionou e ele, que entrava com pressa no local, virou-se e mostrou o documento. “Eu virei só o corpo e disse ‘imprensa’. Fui me aproximando da porta e ele veio por trás de mim, me segurando. Nesse momento, me afastei dele e veio outro me esgoelando”, conta Gobetti.
“A situação é muito chata porque, fora o episódio, o fato de ficar exposto, não é algo nada agradável. Confesso que me senti muito agredido na hora pela truculência e autoritarismo, não sei para que serve esse tipo de gente. São seguranças pagos pelo dinheiro do contribuinte. O problema de segurança é outro, são coisas absurdas. Agora os próprios parlamentares têm culpa disso porque votaram lei que dá a esse pessoal poder de Polícia Federal”.
Quando o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP) passou por ele num determinado momento, o jornalista contou o episódio. Segundo o repórter, Chinaglia ligou para a direção do jornal pedindo desculpas.
A direção da polícia legislativa na Câmara já o procurou para falar a respeito. “Não fiz queixa de imediato porque estava trabalhando e precisava esfriar a cabeça para saber qual será o procedimento mais adequado. O Sindicato dos Jornalistas já me procurou e ofereceu advogados. A minha intenção, a princípio, não é culpar um indivíduo, embora o ache despreparado”.
O diretor-geral da Câmara, Sérgio Sampaio, determinou apuração imediata dos fatos. “Não sabe se será aberto inquérito policial, temos polícia legislativa, mesma atribuição de polícia comum. Mas de qualquer maneira o caso já está sendo apurado, os agentes já foram ouvidos, testemunhas e vamos falar com o jornalista”, respondeu a assessoria de imprensa da Câmara.
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Posição do Cloaca News: embora tenhamos ganas diárias de estrangular certas figuras da imprensa golpista, nossos ímpetos são meramente alegóricos e tropológicos.
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
JUIZ CHICANEIRO DO TSE NÃO DEIXA A PARAÍBA SE LIVRAR DE TUCANO CORRUPTO
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Graças a uma marotagem do excelentíssimo magistrado ao lado, o povo da Paraíba continuará sob a canga de um governador velhaco
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Depois de muita discussão no plenário do Tribunal Superior Eleitoral, foi suspenso nesta quarta-feira (17) o processo que julga os embargos declaratórios que tentam reverter a cassação dos mandatos do ainda governador tucano da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), e de seu vice José Lacerda Neto (DEM). O placar está em 2 votos a zero favoráveis à confirmação da cassação, mas um certo ministro Arnaldo Versiani pediu vistas e adiou a decisão final.
O ministro-relator Eros Grau começou a ler seu voto por volta de 20h30. Depois de vários comentários e de uma série de interrupções dos advogados de ambas as partes, ele declarou que votava contra todos os embargos, pedindo a imediata cassação do tucano.
Foi quando o ministro Arnaldo Versiani antecipou seu pedido de vistas, querendo mais tempo para analisar a questão.Versiani alegou que não leu as novas peças do processo. E garantiu que levará o caso a plenário de novo em fevereiro do ano que vem, exatamente como queria Cunha Lima.
O Ministro Joaquim Barbosa não se conteve diante da manobra cavilosa de seu colega de toga. "É um escândalo em um julgamento como esse... No dia 20 julgamos e decidimos pela remoção desse governador do cargo. É o momento de esta Corte encerrar esse caso. Essas delongas, essas manobras nos envergonham. Manobras que assistimos a toda a hora. É uma vergonha que este governador ainda esteja no cargo há 14 meses por causa de uma liminar”, esbravejou Barbosa.
Ele pediu a continuidade do julgamento, mas a corte decidiu por maioria dos votos suspendê-la até que Versiani faça as vistas necessárias sobre o processo. Joaquim Barbosa, no entanto, adiantou seu voto e disse que acompanhava o relator ao rejeitar todos os embargos.
O processo, então, está em 2 a 0 contra o governador, mas ainda não se sabe quando ele deve voltar à pauta. De acordo com a assessoria de imprensa do Tribunal, não há um prazo fixado para que o ministro chicaneiro apresente seu voto de vistas. Ao que tudo indica, talvez isso aconteça no dia da posse do novo governador.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
GOVERNO LULA: CULPADO POR TER CÃO E CULPADO POR NÃO TER CÃO
Atormentada por delírios ciclotímicos, a cada dia mais acentuados, imprensa golpista maltrata a verdade, atira em todas as direções e afoga-se em seus próprios dejetos
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Na última segunda-feira, a imprensalona fez coro para divulgar o press release da Associação Comercial de S.Paulo - valhacouto de demo-pefelentos: a estrela dos noticiários foi um tal "impostômetro", acusando o rompimento da "astronômica" cifra de um trilhão de reais arrecadados em tributos, em 2008. A "culpa", nesse caso, foi da voracidade dos governos, principalmente o federal, alvo das "reportagens" de encomenda. Fizeram gráficos, animações e o escambau para execrar o governo Lula, mas nada de contextualizar e relacionar o aumento da arrecadação com o crescimento da atividade econômica.
No dia seguinte, como se a véspera não tivesse existido, a "grande notícia" foi justamente o anúncio oficial da "queda" da arrecadação federal. Veja o título da Folha: "Crise pesa e arrecadação cai 16,7% em novembro, segundo Receita". Note-se que a "crise" pesou na queda, mas o crescimento econômico não pesou na subida. Ainda assim, o texto não consegue disfarçar sua antinomia: "No ano, o crescimento acumulado na arrecadação recuou de 10,33% até outubro para 9,16% até novembro. Mesmo assim, o valor dos impostos e tributos atingiu o valor recorde de R$ 633,4 bilhões".
O mesmo tratamento foi dado ao tema pelo G1, o portal da Globo, e pelo Estadão. Os textos, a propósito, são idênticos.
A máfia midiática, definitivamente, entrou em surto de psicose maníaco-depressiva. O Cloaca News está chorando de rir.
GOVERNADORA TUCANA SIFU
Assembléia Legislativa gaúcha aprova projeto que determina o pagamento dos salários a professores e policiais que fizeram greve ou paralisação
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Nem esfriou a escandalosa tentativa de prorrogar pedágios sem licitação, a governadora fascista do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, sofre nova e clangorosa derrota. Com votos até da chamada "base aliada", a Assembléia Legislativa manteve o direito ao abono dos dias paralisados dos servidores públicos estaduais. Significa que os salários já descontados terão que ser pagos, sem choro nem vela.
O líder da bancada do PT, deputado Raul Pont, lembrou que o decreto da governadora publicado no dia 28 de outubro corta a efetividade dos servidores grevistas e prejudica a vida profissional do funcionalismo. Para ele, é uma afronta à norma federal, que trata dos direitos de greve e da construção de acordos coletivos. Além disso, o parlamentar lembrou que o próprio Supremo Tribunal Federal reconhece o direito de greve dos servidores públicos em todos os níveis. A votação ocorreu nesta terça-feira, 16. Os professores a acompanharam nas galerias. No final, comemoraram a vitória cantando o Hino do Magistério.
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
O DEVIDO LUGAR DA REVISTA VEJA
Ao menos duas falácias históricas e uma analogia bizarra falseiam a compreensão da idéia de revisão do princípio da Lei da Anistia apresentada por "Questão fora de lugar - A idéia de revisar o princípio da Lei da Anistia revela a falta de foco do ministro da Justiça", reportagem de Diogo Schelp para a revista Veja (12/11/2008)..
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Por Marcelo da Silva Duarte
(editor de La Vieja Bruja )
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"Quinze anos depois da instauração do regime militar no Brasil", afirma Schelp, "generais e opositores chegaram a um acordo que permitiria iniciar o processo de abertura política, sem maiores solavancos". Tal acordo "foi a Lei da Anistia, assinada em 1979". Para que tal entendimento fosse amplo, geral e irrestrito, continua Schelp, "e não parcial, como queria boa parte da caserna -, reuniram-se políticos, estudantes e trabalhadores naquele que foi o primeiro movimento coordenado da sociedade civil depois do golpe de 1964. Graças à anistia, conquista intensamente festejada por todos os democratas, puderam voltar ao país ou sair da clandestinidade José Serra, Fernando Gabeira, Leonel Brizola, José Dirceu e Franklin Martins, entre outros exilados ilustres e nem tanto".
Embora, de fato, o movimento pela anistia representasse o grosso das entidades envolvidas na luta pela cidadania, Schelp parece considerar uma questão menor o fato de que o projeto encaminhado pelos militares ao Congresso, em junho de 1979, atendia apenas parte do apelo das entidades abrigadas sob o Comitê Brasileiro pela Anistia, uma vez que desavergonhadamente (i) favorecia os militares, incluindo aqueles responsáveis pelas práticas de tortura, e (ii) de sua amplitude excluía os condenados por "terrorismo". Não foi, inclusive, sem muita mobilização popular no dia da votação da referida lei, em Brasília, que a anistia foi estendida aos civis. A aparente harmonia entre os interesses das partes em negociação sugerida pela reportagem, portanto, parece jamais ter existido, já que a vontade dos militares era anistiar unicamente os torturadores e manter em porões os torturados, considerados como "terroristas".
A pacificação interna da qual se ufana Schelp foi, na verdade, o melhor que poderia ser obtido pela sociedade diante das circunstâncias, a saber, diante de uma ditadura, por definição um regime totalitário onde não há espaço para negociação exatamente porque há imposição. Se Schelp não tem claro tal conceito é um problema dele, mas daí não se segue que a menos pior dentre determinadas alternativas faça justiça com a história.
Principalmente com a história de quem não esteve presente no ato de pacificação que a reportagem incensa. Entre os "generais e opositores" -"políticos, estudantes e trabalhadores" - que chegaram a um acordo não estavam os assassinados pela democrática ditadura de Schelp. Talvez eles também quisessem ser ouvidos a respeito de como se sentiram minutos antes de serem mortos, logo após algumas semanas de tortura. E embora essa também pareça uma questão menor aos olhos da reportagem, uma vez que mortos não falam, seria interessante saber se todos os assassinados e torturados pela ditadura militar brasileira concordariam que o princípio da Lei da Anistia é irrevisável em função de ter sido o fruto harmônico de uma democrática discussão.
O que Schelp parece ignorar é que aquilo que toma como princípio da Lei da Anistia, "a saber: o perdão a todos os cidadãos acusados de cometer crimes políticos", ou seja, sua amplitude, é uma falácia que - harmonicamente, ao menos em sua visão - subsume duas verdades históricas irreconciliáveis. Só faríamos justiça com nossa memória se exclusivamente fosse considerado crime político todo aquele ato praticado contra o aviltamento da democracia patrocinado pela caserna, e jamais aqueles praticados contra esse justo e legítimo direito de sublevação cidadã pelo Exército, o único criminoso durante a recente ditadura militar brasileira. O direito ao exercício da repressão oficial, obtido injusta e ilegitimamente pelos militares a partir do golpe antidemocrático de 1964, exercido a todo vapor contra um legítimo e justo direito à sublevação, portanto, jamais poderia ser considerado crime político ou conexo a crime político, uma vez que praticado ao arrrepio da ordem democrática vilipendiada pelos próprios militares.
"Quando um povo é obrigado a obedecer e o faz - disse Jean Jacques Rousseau em seu “Do Contrato Social” - age acertadamente; assim que pode sacudir esse jugo e o faz, age melhor ainda, porque, recuperando a liberdade pelo mesmo direito por que lha arrebataram, ou tem ele o direito de retomâ-la ou não o tinham de subtraí-la".
Em seu socorro, Schelp parece avalizar tese recentemente abraçada por Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal, segundo a qual "embora tortura e terrorismo sejam imprescritíveis, nada impede que tais práticas sejam anistiadas", que de modo logicamente estabanado distribui um mesmo sentido de imprescritibilidade entre fatos históricos contrários do ponto de vista contextual. Não contava, porém, com um tiro no pé: se da imprescritibilidade dos crimes de tortura e terrorismo não se segue que não sejam anistiáveis, então da amplitude principiológica da Lei da Anistia não se segue sua irrevisibilidade. Nada impede, por conseguinte, que o princípio da Lei da Anistia seja revisado, embora amplo, geral e irrestrito.
Schelp também sofisma ao afirmar que "os terroristas de esquerda que mataram, roubaram, seqüestraram e mutilaram (...) lutavam pela implantação de uma ditadura comunista". Donde, por conseguinte, a legitimidade da repressão oficial e a impossibilidade de inocentá-los sem, simultaneamente, inocentar seus torturadores. Entretanto, do fato da uma das estratégias da resistência armada ter priorizado o foco revolucionário não se segue que toda resistência lutava pela implementação do embrião comunista. A tortura contra a resistência, porém, longe de qualquer sofisticação lógico-semântica, de sua parte correu ampla, geral e irrestrita.
Todavia, se ele também acredita que as reformas de base propostas pelo governo João Goulart culminariam com a implantação de um regime totalitário comunista no Brasil e que Leonel Brizola recebeu dinheiro de Cuba para financiar a luta armada contra a ditadura, então sim, a resistência cidadã lutava pela implementação de uma ditadura comunista. Porém, se Schelp não aprendeu história em colégios militares, então ao menos deveria saber que a resistência cidadã não lutava pela implementação de uma ditadura, mas sim pela democracia e pela liberdade exatamente contra uma ditadura.
Graças a essa luta é que hoje Schelp pode dar sua opinião sobre sua própria história e a falta de foco do ministro da Justiça, porém sem correr o risco de ser torturado por isso.
Schelp finaliza afirmando que "Argentina e Chile optaram por revogar suas leis de anistia e deram andamento à punição de alguns dos responsáveis pelos crimes de suas ditaduras", mas ressalva que o acerto de contas de argentinos e chilenos com seus torturadores e assassinos se trata de "situações distintas da do Brasil, onde a magnitude da repressão foi bastante inferior".
Ou seja, o direito de punir responsáveis por crimes cometidos por ditaduras parece ser diretamente proporcional à magnitude da repressão que os autorizou a torturar e assassinar seus semelhantes. Quanto maior a repressão, maior o direito de puni-los; porém, se a repressão não foi assim tão ampla, então esse direito parece sequer fazer sentido. Ora, isso parece implicar, na escala moral de Schelp, que punir tanto a morte quanto a tortura é eticamente irrelevante todas as vezes que a magnitude de uma repressão for inferior a um determinado padrão opressor. Resta sabermos, porém, quem o estabelece e de que forma funciona. Para o jornalismo da revista Veja, aparentemente, 4000 assassinatos e milhares de sessões de tortura talvez justifiquem a punição de seus responsáveis, mas 400 mortes e poucas centenas de sessões de sadismo, não.
Foco parece não faltar ao repórter da Veja. Mas Diogo Schelp, infelizmente, é um homem sem memória.
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(texto publicado originalmente em CARTA MAIOR)
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
25 PERGUNTAS PARA GILMAR MENDES
Do blog O Biscoito Fino e a Massa, de Idelber Avelar:
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"Como já sabem a torcida do Corinthians e os leitores do Mello, do Luiz Nassif e do Paulo Henrique Amorim, o Roda Viva, da TV Cultura, vai ao ar nesta segunda com uma entrevista a Gilmar Dantas Mendes, o presidente do Supremo Tribunal Federal. Até mesmo para os padrões do horrendo jornalismo que se pratica no Brasil, é vergonhosa a operação realizada pela TV Cultura com o Roda Viva desta segunda. Os escalados para entrevistar Gilmar Mendes são Eliane “vacinem-se contra a febre amarela!” Cantanhêde, Reinaldo Azevedo, cuja ignorância, truculência e hidrofobia dispensam comentários, Carlos Marchi, do Estadão e Márcio Chaer, editor do site Consultor Jurídico, de conhecidas ligações com Gilmar Dantas Mendes.
O Roda Viva escalou quatro levantadores de fazer inveja a Ricardinho. A TV Cultura realizaria algo mais próximo do jornalismo se escalasse como entrevistadores quatro capangas ou funcionários de Mendes. A obviedade da manobra terminou, pelo que parece, saindo pela culatra. Uma enxurrada de protestos chegou ao site da TV Cultura.
Mas a coisa ainda piora. O ombudsman – cargo que Houaiss define como jornalista que, de maneira independente, critica o material publicado e responde às queixas dos leitores – resolveu tecer suas próprias teorias sobre a avalanche de protestos que lhe chegaram. Num texto em que abdica completamente da função para a qual foi contratado, Ernesto Rodrigues afirma, sobre os emails, que em todos eles, exatas 10380 palavras, independentemente se eram de remetentes simpáticos ou não à bancada escolhida de entrevistadores, não houve uma única linha com sugestões de perguntas, cobranças ou acusações específicas a serem feitas ao ministro Gilmar Mendes na entrevista. O que só reforça a sensação de que esses telespectadores remetentes, em especial, não pareciam muito interessados no conteúdo da entrevista. Parece brincadeira, mas essas são as palavras de um ombudsman -- um sujeito que é pago para te representar, leitor.
Tendo acompanhado a reação na internet, fica difícil acreditar que nem um único email contivesse sugestões de perguntas a serem feitas a Gilmar Dantas Mendes. No espírito, então, de colaborar com o ombudsman da TV Cultura, enviei-lhe o seguinte email:
Prezado Jornalista Ernesto Rodrigues:
No texto em que Sr. comenta a indignação que tomou conta dos telespectadores da TV Cultura ante a escalação da bancada que entrevistará Gilmar Mendes nesta segunda-feira no Roda Viva, o Sr. afirma que nem um único email continha sugestões de perguntas a serem feitas ao entrevistado. Confesso que não entendi a frase acerca dos emails conterem 10380 palavras, talvez por deficiência minha na descifração de anacolutos. Confio que este email não repetirá o cabalístico número.
No espírito de corrigir o que certamente terá sido uma indesculpável desatenção dos missivistas, incluo aqui 25 perguntas que eu – e, tenho certeza, muita gente mais – gostaria que fossem feitas ao Presidente Gilmar Mendes.
1. O sr. sabe algo sobre o assassinato de Andréa Paula Pedroso Wonsoski, jornalista que denunciou o seu irmão, Chico Mendes, por compra de votos em Diamantino, no Mato Grosso?
2. Qual a natureza da sua participação na campanha eleitoral de Chico Mendes em 2000, quando o sr. era advogado-geral da União?
3. Qual a natureza da sua participação na campanha eleitoral de Chico Mendes em 2004, quando o sr. já era presidente ministro do Supremo Tribunal Federal?
4. Quantas vezes o sr. acompanhou ministros de Fernando Henrique Cardoso a Diamantino, para inauguração de obras?
5. O sr. tem relações com o Grupo Bertin, condenado em novembro de 2007 por formação de cartel? Qual a natureza dessa relação?
6. Quantos contratos sem licitação recebeu o Instituto Brasiliense de Direito Público, do qual o sr. é acionista, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso?
7. O sr. considera ética a sanção, em primeiro de abril de 2002, de lei que autorizava a prefeitura de Diamantino a reverter o dinheiro pago em tributos pela Faculdade de Ciências Sociais e Aplicadas de Diamantino, da qual o sr. é um dos donos, em descontos para os alunos?
8. O sr. tem alguma idéia do porquê das mais de 30 ações impetradas contra o seu irmão ao longo dos anos jamais terem chegado sequer à primeira instância?
9. O sr. tem algo a dizer acerca da afirmação de Daniel Dantas, de que só o preocupavam as primeiras instâncias da justiça, já que no STF ele teria “facilidades”?
10. O segundo habeas corpus que o sr. concedeu a Daniel Dantas foi posterior à apresentação de um vídeo que documentava uma tentativa de suborno a um policial federal. O sr. não considera uma ação continuada de flagrante de suborno uma obstrução de justiça que requer prisão preventiva?
11. Sendo negativa a resposta, para que serve o artigo 312 do Código de Processo Penal segundo a opinião do sr.?
12. Por que o sr. se empenhou no afastamento do Dr. Paulo Lacerda da ABIN?
13. Por que o sr. acusou a ABIN de grampeá-lo e até hoje não apresentou uma única prova? A presunção de inocência só vale em certos casos?
14. Qual a resposta do sr. à objeção de que o seu tratamento do caso Dantas contraria claramente a súmula 691 do próprio STF?
15. O sr. conhece alguma democracia no mundo em que a Suprema Corte legisle sobre o uso de algemas?
16. O sr. conhece alguma Suprema Corte do planeta que haja concedido à mesma pessoa dois habeas corpus em menos de 48 horas?
17. Por que o sr. disse que o deputado Raul Jungmann foi acusado “escandalosamente” antes de que qualquer documentação fosse apresentada?
18. O sr. afirmou que iria chamar Lula “às falas”. O sr. acredita que essa é uma forma adequada de se dirigir ao Presidente da República? O sr. conhece alguma democracia onde o Presidente da Suprema Corte chame o Presidente da República “às falas”?
19. O sr. tem alguma idéia de por que a Desembargadora Suzana Camargo, depois de fazer uma acusação gravíssima – e sem provas – ao Juiz Fausto de Sanctis, pediu que a "esquecessem"?
20. É verdade que o sr., quando era Advogado-Geral da União, depois de derrotado no Judiciário na questão da demarcação das terras indígenas, recomendou aos órgãos da administração que não cumprissem as decisões judiciais?
21. Quais são as suas relações com o site Consultor Jurídico? O sr. tem ciência das relações entre a empresa de consultoria Dublê, de propriedade de Márcio Chaer, com a BrT?
22 .É correta a informação publicada pela Revista Época no dia 22/04/2002, na página 40, de que a chefia da então Advocacia Geral da União, ou seja, o sr., pagou R$ 32.400 ao Instituto Brasiliense de Direito Público - do qual o sr. mesmo é um dos proprietários - para que seus subordinados lá fizessem cursos? O sr. considera isso ético?
23. O sr. mantém a afirmação de que o sistema judiciário brasileiro é um “manicômio”?
24.Por que o sr. se opôs à investigação das contas de Paulo Maluf no exterior?
25. Já apareceu alguma prova do grampo que o sr. e o Senador Demóstenes denunciaram? Não há nenhum áudio, nada?
Se pelo menos duas ou três dessas perguntas forem feitas ao entrevistado nesta segunda-feira, caro jornalista, eu me juntarei a V. Sra. na avaliação de que a revolta que se viu na internet não é representativa do pensamento da maioria dos telespectadores do Roda Viva.
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Atenciosamente, me despeço, desejando boa sorte à sua credibilidade,
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Idelber Avelar "
domingo, 14 de dezembro de 2008
A VOCAÇÃO LATRINÁRIA DE JOSIAS DE SOUZA
Não custa relembrar, embora você já esteja careca de saber, quem é Josias de Souza.
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Forjado nas manilhas pestilentas da Folha de S.Paulo, Josias escalou rapidamente as fossas da alameda Barão de Limeira até tornar-se o cão-de-guarda favorito da direita hidrófoba e editorialista informal do jornalão.
É em seu blog, porém, que ele destila seu rancor, seu ressentimento e seu ódio por ter perdido as boquinhas do tempo de FHC, quando produzia "reportagens" com "tudo pago".
Neste sábado, 13/12, Josias mostrou a que ponto chegou o desespero daqueles que não suportaram publicar os 70% de aprovação de Lula e o PIB de 6,8% no terceiro trimestre.
Em um artiguete sobre o "aniversário" do AI 5, o colunista-tenióide apelou para a "falta de memória" do povo brasileiro a respeito daquela efeméride maldita. E sapecou: "A santa do esquecimento protege os deserdados da história. Permite que protagonistas de um passado sujo desfilem pelo presente com prontuários limpos. Muitos deles estão aí mesmo, ao lado de Lula, posando de heróis da resistência".
Pelo visto, Notre Dame de l'Oubli abençoou o inopioso jornalista com uma mui conveniente amnésia histórica. Do contrário, teria escrito que, naquele tempo, enquanto Josias brincava de Falcon e colecionava soldadinhos Toddy, as caminhonetes da Folha estavam a serviço da OBAN (Operação Bandeirante), entregando presos políticos ao DOI-CODI para serem torturados.
Vá até lá (clique aqui) e procure pelo título "8 em cada 10 brasileiros não ouviram falar do AI-5". Mas, leve creolina.