Desde a tarde desta sexta-feira, 23, pipocam nos sites noticiosos da imprensa corporativa manchetes parecidas com essa, da revista Época: "Nazista Josef Mengele criou “cidade dos gêmeos” no Rio Grande do Sul, diz livro" . A notícia, em suma, dá publicidade ao livro "Mengele: el Ángel de la Muerte en Sudamérica" (Mengele: O Anjo da Morte na América do Sul), lançado no ano passado pelo jornalista argentino Jorge Camarasa. Em sua obra, o autor especula, de forma absolutamente empírica, que a incomum população de gêmeos da cidade gaúcha de Cândido Godói, a 550 quilômetros de Porto Alegre, teria sido fruto de "experiências genéticas" feitas pelo médico e criminoso nazista Joseph Mengele, nos anos 60, em suas andanças pela região.
No caso da revista Época, a informação é tratada como verdade histórica, embora utilize o livro como "álibi" e qualifique seu autor como "historiador", coisa que Camarasa não é, nem nunca foi.
Na prática, ao divulgar essa informação sem apresentar qualquer questionamento - como seria de se esperar diante de assunto tão delicado - a revista Época acabou legitimando as barbaridades do argentino. Trataremos disso mais adiante.
Nossa perplexidade foi ao cume, de verdade, quando começamos a rastrear a origem do descalabro; acabamos descobrindo que o livro ganhara manchetes em praticamente todos os países deste mundo. E, curiosamente, todos os jornais e sites estavam destacando os mesmíssimos pontos pinçados pela Época: que os gêmeos de Cândido Godói eram resultado de manipulação genética de Mengele. Se tiver paciência, clique nos links a seguir e veja com seus próprios olhos (lembrando que são fruto de busca aleatória; há algumas centenas de outros veículos repetindo a mesma coisa).
The Daily Telegraph - Reino Unido
Neste momento, julgamos oportuno informar que esse não é o primeiro livro de Camarasa, nem é a primeira vez que ele levanta essa tese macabra sobre a "origem" do fenômeno gemelar de Cândido Godói. Em 1995, o autor publicara a obra "Odessa al Sur" (Odessa ao Sul), em que lançou pela primeira vez a mesma hipótese descabida, em tom de fato comprovado. De qualquer forma, tempos depois, a suspeita acabou chegando ao conhecimento de um jornalista brasileiro, que resolveu tirar a história a limpo. Após alguns meses de minuciosa apuração, consultando sumidades científicas especializadas em nascimentos gemelares e entrevistando os próprios gêmeos no distrito rural de Cândido Godói onde são mais numerosos, o repórter teve seu trabalho publicado na edição brasileira da insuspeita revista National Geographic, em junho de 2002. O texto integral da reportagem pode ser lido aqui. Cabe registrar, ainda, que a referida matéria acabou sendo plagiada meses após sua publicação pelo televisivo Globo Repórter, da Rede Globo, em um dos blocos de programa que tratava de gêmeos. A denúncia do descaramento global foi registrada pelo site do Observatório da Imprensa, como se pode ler clicando aqui.
O fato é que, hoje, 24 de janeiro, graças a uma turba de jornalistas e editores inescrupulosos, o mundo todo está lendo que os gêmeos de Cândido Godói são "crias" do nazista Joseph Mengele. Daqui para a frente, a pacata cidade de 7100 habitantes, que cultiva árvores frutíferas em suas calçadas, não terá mais sossego. Graças ao estigma que lhes foi pespegado, os pouco mais de 140 pares de gêmeos daquele rincão serão assediados por equipes de TV vindas de toda a parte. Serão mostrados como se fossem aberrações. E pobres daqueles que tiverem cabelos dourados e olhos azuis! Tudo porque um jornalista argentino descobriu, em suas "pesquisas históricas", que Joseph Mengele havia "desenvolvido um método pelo qual as vacas conseguiam parir dois bezerros". E que, a partir de sua passagem por Cândido Godói, em 1963, foi registrado o nascimento de um par de gêmeos a cada cinco partos normais, quando a média mundial é de um parto de gêmeos a cada 20 normais.
Então, em nome da dignidade humana, vamos esclarecer que:
1- A primeira leva de colonos alemães a instalar-se em Cândido Godói chegou à região nos anos 30, e já trazia consigo 17 pares de gêmeos. A maioria desses imigrantes provinha da região de Hunsrück, onde a taxa de nascimentos gemelares sempre foi, e ainda é, considerada alta;
2- Estudo feito pela biológa Úrsula Matte, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, constatou que parte considerável da população de gêmeos naquela localidade é monozigótica, ou seja, fruto da divisão de um único óvulo, coisa que até hoje a Ciência não é capaz de fazer. O estudo da Dra. Matte foi publicado em respeitáveis publicações acadêmicas e científicas internacionais;
3 - Imaginar que um sujeito estranho, apresentado-se à comunidade como veterinário, pudesse convencer casais a se submeter a experimentos de fertilização, nos anos 60, sendo que a maioria das mulheres dali, naquela época, sequer havia visitado um ginecologista...francamente!!!
4 - Supor que um sujeito estranho, apresentando-se como veterinário capaz de fazer uma vaca parir dois bezerros, fosse capaz de convencer alguma mulher em perfeito juízo a ingerir o conteúdo de um vidrinho (como alega Camarasa) para ter gêmeos...isso é brincadeira!!!
5- Imaginar que um foragido como Mengele pudesse monitorar seus supostos "experimentos" permancendo na região durante o período de uma gestação...isso é zombaria!!!
6 - Mengele, também conhecido como o "Anjo da Morte", andou, sim, pela região de Cândido Godói, em 1963. Hospedou-se no "bolicho" (armazém) do Sr. Sigfried Schwertner - falecido há três anos - na vizinha cidade de Cerro Largo. Apresentou-se com outro nome - Rudolf Wiess - mas não escondeu ter pertencido à SS. Na conversa que manteve com o dono do armazém/hospedaria, relatou que na localidade de Santo Cristo, onde estivera antes, reunira-se com alguns moradores e dissera que, na Alemanha, "tinha realizado experiências com inseminação artificial em gado e até com seres humanos". E ressalvou que os presentes se indignaram, justificando que isto era contra a natureza e a religião não permitia tal coisa.
Execramos absolutamente todos os jornais, revistas e portais de internet que estão tratando os delírios do autor argentino como fonte fidedigna. Abominamos cada um dos editores que, diante de uma "denúncia" dessa envergadura, não se dignaram a avaliar seu teor de razoabilidade e confiabilidade. E tiramos nosso chapéu apenas para a BBC Brasil que, ao dar a notícia da existência do tal livro, fez um contraponto com a opinião do geneticista Sérgio Danilo Pena, professor titular de Bioquímica da Universidade Federal de Minas Gerais -UFMG - , que qualificou a tese levantada pelo livro como "patética".
Patético mesmo, em nossa humilde opinião, é esse jornalismo sem-vergonha, de manchetes irresponsáveis, que não apura; que prefere botar tudo entre aspas e que agora, diante da estupidez publicada , vai botar a "culpa" "no livro".
sábado, 24 de janeiro de 2009
EXCLUSIVO: A FRAUDE JORNALÍSTICA DOS "GÊMEOS DE MENGELE"
- Jornais de todo o mundo fazem sensacionalismo rasteiro com tese absurda de um livro delirante
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- Imprensa brasileira irresponsável embarca de gaiata na canoa furada planetária
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- Só a BBC Brasil escapa do vexame internacional
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- Acompanhe, tintim por tintim, os disparates dessa história estarrecedora
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
LEMBRA DO RICÚPERO? AQUELE?
1994. Tempos de FHC. Antenas parabólicas captaram uma conversa informal entre o ministro da Fazenda, Rubens Ricúpero, e o repórter da Rede Globo, Carlos Monforte, antes da gravação de uma entrevista no estúdio da emissora, em Brasília, na noite de 1/9. No sábado, dia 3, um mês antes do primeiro turno das eleições, a Folha de S. Paulo publicou o surpreendente diálogo. Quando a gravação começa, o assunto é a taxa muito alta do IPC-r de agosto, índice que a equipe econômica encomendara ao IBGE. Ricúpero ataca o instituto: "Eles fizeram um tremendo erro metodológico. ( ... ) Há uma tese também, um grupo que diz que o IBGE é um covil do PT". Referindo-se aos empresários, confirma a queda das alíquotas de importação para segurar os preços, "o único jeito de garantir que não vai faltar produto, porque esses caras... Porque você está jogando aí com bandidos, você entende. É tudo bandido. Você conhece aquela história da máfia?" Instado pelo repórter a anunciar as indicações de uma taxa bem menor do IPC-r em setembro, alega que deveria conversar primeiro com os economistas da Fazenda, "senão eles me matam. (...) Vão dizer: 'Pô, você proibiu da vez anterior que era ruim, agora que é bom...' No fundo é isso mesmo. Eu não tenho escrúpulos. O que é bom a gente fatura, o que é ruim, esconde". Monforte muda de assunto: "Uma curiosidade minha: você andou batendo no PSDB, dando umas porradinhas? ". E Ricúpero: "A única forma que eu posso provar meu distanciamento do PSDB é criticar o PSDB ". Outra pergunta: "Esse negócio da gasolina não é um pouco precipitado? Falar que pode baixar o preço e tal? ". 0 ministro justifica: "Eu faço essas coisas um pouco por instinto, sabe? De vez em quando armo uma confusão. Não tenha dúvida: esse país não é racional". Em seguida, se oferece: "Se quiser, neste fim de semana podia ver o negócio do Fantástico. Posso gravar também, se quiser alguma coisa, eu estou à disposição. Quem é que é? É o Alexandre? (...) Pode falar porque eu estou disponível. Eu vou ficar aqui o fim de semana inteiro (...) o máximo que eu puder falar eu falo ". Sobre seu futuro, esnoba: "O governo precisa muito mais de mim do que eu dele " e, "se tudo der certo ", o problema será FHC "explicar não me convidar. (...) há inúmeras pessoas que me escrevem e me procuram para dizer que votam nele por minha causa. (...) para a Rede Globo foi um achado. Em vez de terem que dar apoio ostensivo a ele, botam a mim no ar e ninguém pode dizer nada. (...) Isso não ocorreu da outra vez. Essa é uma solução, digamos, indireta, né? (...) Ouço muita gente que não votaria nele por causa do PFL e que vai votar por causa de mim".
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Tornou-se impossível a permanência de Ricúpero no cargo. Anunciou seu pedido de demissão no dia seguinte, em uma carta lida em tom emocionado e com algumas lágrimas. Alegou que, por estar muito cansado e entretido em conversa "inteiramente particular ", teria dito "palavras que não refletem o que penso ou o que sinto. Em alguns daqueles comentários nem eu mesmo me reconheço. (...) Não hesito em pedir desculpas quando erro. Faço-o agora, por tudo o que possa ter decepcionado quem quer que seja. Faço o também pela referência aos empresários brasileiros ao generalizar comportamentos individuais que já havia condenado". Declarou que a frase sobre não ter escrúpulos se referia apenas à conveniência de divulgar indicações favoráveis sobre os índices de inflação para favorecer a estabilidade dos preços. Negou articulações com a Rede Globo: "Meus comentários pessoais sobre os possíveis efeitos do Plano Real nas eleições e sobre a cobertura do plano pelos meios de comunicação não foram mais do que impressões superficiais. Eles carecem de qualquer base concreta que os possa justificar". E terminou citando palavras de Jó e o Salmo 32. Semanas depois, intimado a depor pela Justiça Eleitoral sobre a conversa com Monforte, Ricúpero voltou a ser apenas o diplomata frio e calculista. Nem sinal do beato ou do coitado arrependido. Declarou ter citado a Globo de forma genérica, querendo tratar da mídia em geral, e que em nenhum momento falava de qualquer candidato: o pronome "ele " designava o plano econômico, e não FHC; e a frase "isto não ocorreu da outra vez" lembrava apenas a primeira fase do Plano Real, e não 1989.
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Por que o Cloaca News está recuperando esse triste episódio da vida nacional? - é a pergunta que você deve estar fazendo, não é? A resposta talvez esteja nas xexelentas páginas digitais de O Globo de hoje, sexta-feira, abrigada sob o seguinte título: 'The Economist' critica Lula e Tarso por concessão de refúgio a Battisti.
É que já perdemos a conta de quantas reportagens foram publicadas pela chamada imprensa internacional com pautas positivas sobre o Brasil no Governo Lula, e que esses sicofantas do jornalismo caboclo esconderam de seus leitores. Para eles, como qualquer um pode constatar, notícia ruim é notícia boa. E vice-versa. Você bota fé nesses sem-vergonhas?
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
PROFESSORES GAÚCHOS JÁ ESTÃO PAGANDO PELO JATINHO DE GOVERNADORA TUCANA
Os leitores habituais do tablóide Zero Hora estão tomando conhecimento, na edição de hoje do jornalzinho, de que "Yeda quer visibilidade às ações do governo". O texto da "reportagem" informa que, em reunião com seus secretários, "a governadora Yeda Crusius formatará estratégia para o governo estadual aparecer mais em 2009. Como garantir o brilho do Executivo em anúncios de medidas positivas...". Em outra matéria, na edição digital, lê-se que "Yeda diz que avião não é luxo", e mais esse desabafo da tucana: "Eu vou pegar todo dinheiro em caixa e a Yeda vai "luxar" por aí. Não, não é isso. Não se compra um avião em cash (dinheiro), a não ser que se tenha cash — disse lembrando que o governador de Santa Catarina tem três aviões, e do Paraná, oito." Disse mais a desvairada senhora: "Podem chamar de Aeroyeda, Queen Air, o que quiserem, podem continuar discutindo, o Rio Grande tem que se discutir".
Enquanto isso, algumas dezenas de milhares de professores da rede estadual gaúcha estão queimando a mufa para saber onde gastar o polpudo subsídio de alimentação depositado esta semana em suas contas-correntes pelo brilhoso Executivo: algo em torno de 35 reais. Até o mês passado, tal quantia passava de 90 reais. Desse reluzente e palpitante tema, no entanto, o tablóide do grupo RBS não se ocupou.
Ah! íamos nos esquecendo de mencionar este outro trecho do esplendoroso jornalismo de Zero Hora: "A partir de agora, haverá reuniões de pauta semanais com assessores de imprensa que trabalham no primeiro e segundo escalões, para afinar a melhor forma de transmitir a informação até mesmo sobre o acesso a serviços de interesse dos cidadãos".
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
O MELHOR DO FOTOJORNALISMO EM 2008
A seleção que você vai ver abaixo foi feita pelo jornal The Boston Globe. Como em toda lista desse tipo, é certo que terá havido alguma injustiça, o que, de forma alguma, desdoura as imagens escolhidas. São 120 fotos, entre elas algumas verdadeiramente chocantes (nesses casos, você encontrará uma advertência antes da exibição). A apresentação está dividida em três partes, com 40 fotos cada. Clique nos links a seguir.
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
A IMPRENSA CANGACEIRA DE AÉCIO NEVES
Bem que o nosso amigo Língua de Trapo, de Belo Horizonte, não cansa de nos alertar. A coisa em Minas Gerais não é brincadeira, conforme você poderá constatar neste revelador libelo produzido pelo documentarista Daniel Florêncio originalmente para a Current TV. São apenas oito minutos, mas garantimos que é material de arrepiar os cabelos. Clique aqui e assista ao original, em inglês. Ou, clique aqui e assista à versão legendada.
E, caso você ainda não tenha visto, aproveite e assista, também, ao vídeo-documentário "Liberdade, essa palavra", produzido em 2006 pelo jornalista Marcelo Baêta. Com 21 minutos de duração, o programa está fracionado em três partes. Inicie aqui, continue aqui e termine aqui.
Ao final do cineminha, tente imaginar o Brasil sendo governado por esse tresloucado, e com sua irmãzinha "Maria Bonita" Neves na Secretaria de Comunicação Social...
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
COMO A IMPRENSA CORPORATIVA PATROCINA AS EXÉQUIAS DO BRASIL
domingo, 18 de janeiro de 2009
PRATO DO DIA: NOBLAT COM BATATA ASSADA
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Como faz rotineiramente – para encher linguiça – , o afamado jornalista Ricardo Noblat pescou no alheio algo para enfeitar seu afamado blog, homiziado no portal do jornal O Globo. No caso, Noblat foi ao site da BBC Brasil e voltou de lá com uma materiazinha fria e bobinha sobre as gafes cometidas pelo ainda presidente americano George W. Bush nos últimos oito anos. Como convém a uma respeitável organização noticiosa, o texto da BBC limitou-se a preceder sua lista com este sóbrio subtítulo: “Todos os políticos cometem gafes e falam coisas sem pensar. Mas o presidente americano, George W. Bush, conseguiu tornar-se notório por isso”.
Ocorre que Noblat, esta reserva moral do jornalismo pátrio, não se contentou com a mera reprodução do artigo e resolveu “agregar valor” à mercadoria, tascando o seguinte título: “Vocês pensam que só o Lula diz bobagens?”.
Como vemos, o barrigueiro-mor das Organizações Globo não enxerga qualquer problema em ultrajar o Presidente da República da maneira mais torpe e rasteira possível. Na certa, imagina o boquirroto que sua pilhéria vai contribuir para o aperfeiçoamento das nossas instituições democráticas e que seus leitores, de altíssima extração, o carregarão em triunfo por ele ter exposto o Chefe da Nação ao ridículo.
Ricardo Noblat - não duvide - julga-se uma potestade da Imprensa. E deve achar, também, que a memória curta dos brasileiros já tenha deletado seu passado trevoso. Pois a memória do editor deste Cloaca News vai muito bem, obrigado. E, em nome da missão a que nos propusemos cumprir (como se lê na barra aí do lado direito), sentimos que é chegada a hora de resgatar um dos episódios mais sórdidos da vida brasileira, protagonizado à sombra por Noblat, quando este ainda era o Diretor de Redação do jornal Correio Braziliense. Vamos aos fatos.
Junho de 2000 – O então senador Luiz Estevão tem seu mandato cassado. Descobre-se que no dia seguinte ao da cassação o painel de votação do Senado tivera seu sigilo violado. Autores da falcatrua: o finado Antônio Carlos Magalhães e o atual governador do DF, José Roberto Arruda (na época, líder do governo FHC no Senado).
Abril de 2001 – Numa quarta-feira, dia 18, a jornalista Valéria Blanc, colunista do Correio Braziliense, publica nota afirmando que FHC tinha pleno conhecimento da violação do painel de votação do Senado.
Assim escreveu Valéria: “No dia seguinte à cassação do mandato de Estevão, Arruda entrou no gabinete de ACM — à época o presidente do Senado —, olhou-o e disse: ‘‘O senhor está sentado?" Com sua habitual verve, ACM respondeu: ‘‘Você não está vendo que sim?!" Arruda prosseguiu: ‘‘Está comigo a lista de como os senadores votaram ontem a cassação de Luiz Estevão". ACM fitou o tucano e perguntou: ‘‘Você já mostrou isso ao presidente (da República)?" Resposta: ‘‘Já mostrei."
Como era de se esperar, ACM negou ter travado tal diálogo, mas admitiu que teve a posse da lista. A repórter do Correio jamais desdisse o que publicara. A denúncia era gravíssima, e poderia levar ao impedimento de FHC. Naquela época, este editor do Cloaca News que lhe escreve considerou estranhíssimo que o até então brioso Correio Braziliense tivesse arrefecido no aprofundamento do tema e, por e-mail, interpelou o Diretor de Redação, Ricardo Noblat. Este, por sua vez, respondeu que, com a negativa de ACM, o assunto não poderia ser levado adiante. Questionado novamente por este escriba, que quis saber se Noblat achava que sua repórter teria inventado aquela história, o Diretor de Redação foi categórico: ela não inventou. Então – replicamos – o Sr. sabe que FHC sabia da violação, mas vai ficar quieto apenas porque ACM nega o diálogo? A resposta de Noblat, - a última de nossa troca de e-mails – foi laconicamente afirmativa.
Ao juntarmos as peças, vemos que, naqueles tempos, a jornalista Rebeca Scatrut, esposa de Noblat, fora contratada com exclusividade para prestar assessoria de Imprensa ao Ministério da Reforma Agrária, então comandado pelo ministro Raul Jungmann. Um contrato milionário, é bom que se registre, maior até que um outro que Rebeca conseguira graças à intermediação do marido junto ao governo do DF, na época de Cristovam Buarque. E, veja você, cara leitora, caro leitor: nenhum jornal brasileiro falava tanto (bem, claro) do ministro Jungmann quanto o Correio Braziliense, dirigido pelo impoluto Ricardo Noblat.
Janeiro de 2007 – A Procuradoria da República no Distrito Federal denuncia Raul Jungmann e mais oito pessoas, entre elas Rebeca Scatrut, por participar de um esquema de desvio de R$ 33 milhões de verbas públicas para pagamento de contratos de publicidade no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) quando era ministro do Desenvolvimento Agrário na gestão de Fernando Henrique. Convém lembrar, também, que o próprio grupo Diários Associados já acusou Noblat de ter usado o cargo de diretor de Redação do jornal Correio Braziliense para beneficiar os negócios da empresa de sua cara-metade. Poderíamos continuar esse blablablá aqui, mas, você quer mesmo ouvir o resto dessas... bobagens?