quinta-feira, 27 de novembro de 2008

ENTREVISTA COM TEREZA CRUVINEL - PARTE 2

Parte final da entrevista que Tereza Cruvinel, presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), concedeu ao jornalista Sérgio Matsuura, do portal Comunique-se.
A primeira parte da conversa encontra-se duas postagens abaixo.
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C-se - Quando o Orlando Senna saiu, ele falou muito do engessamento. A EBC continua engessada? Tereza Cruvinel - Engessamento são essas coisas, mas nós já “desengessamos” bastante a empresa. Nós estamos criando a diretoria jurídica, ocupada pelo doutor Luiz Henrique Martins dos Anjos, um advogado da União altamente qualificado. Estamos criando mecanismos que facilitem isso que ele chamava de engessamento. A lei engessa. Eu também poderia ter ido embora, porque ela era realmente muito engessada. Eu preferi ficar. Então o que a gente tem feito? Construído mecanismos de gestão, mecanismos jurídicos que nos tornem mais ágeis. Nós conseguimos aprovar um decreto criando um regimento mais simplificado de compras, que já nos dá mais agilidade. Nós estamos regulamentando alguns artigos da nossa lei. Nós queremos regulamentar a contratação de programas por pitching. É preciso combinar legalidade com agilidade. Isso que é “desengessar”. Se fosse fácil fazer a TV pública ela já existiria no Brasil há muito tempo. C-se - No primeiro ano foram aplicados R$ 350 milhões. Para 2009 vocês já têm uma verba prevista? Tereza Cruvinel - A gente tem R$ 350 milhões reservados no orçamento que o Governo enviou para o Congresso, mas a gente não sabe o que o Governo fará diante da crise internacional, se ele vai fazer cortes orçamentários. Se houver, pode nos atingir. Mas não é nada que vá ameaçar o funcionamento da empresa. Os cortes são lineares, não específicos para a TV Brasil ou para a EBC. O que pode acontecer é a gente não conseguir fazer tudo o que queria no ano. E nós temos que buscar mais parcerias com o setor privado, nós temos que nos virar. Não podemos ficar só esperando o Governo. C-se – Como funcionam essas parcerias com o setor privado? Tereza Cruvinel - As parcerias são feitas com base na Lei Rouanet. Nós temos, hoje, algumas parcerias, mas precisamos avançar mais. Agora estamos com um projeto com o Sesi sobre um programa novo. Em 2009 nós vamos lançar o programa Imagens do Brasil, que não foi possível lançar esse ano. A gente espera que o setor privado invista muito nesse fundo porque é um fundo para financiar produções independentes para a exibição na TV pública. C-se – A verba deste ano já foi toda empenhada? Tereza Cruvinel - Você tem três rubricas no orçamento público: pessoal, custeio e investimento. Pessoal, gasta-se, porque é o pagamento de folha. Custeio, nós já estamos com o nosso orçamento completamente esgotado, tendo até que deixar alguma coisa para o ano que vem. Agora, nós reservamos R$ 100 milhões para licitação. Essa que está em curso e esperamos conseguir concluí-la para gastar esse dinheiro e termos uma execução orçamentária muito boa. Execução orçamentária boa é aquela que você consegue gastar, corretamente, legalmente, mas consegue gastar. C-se – Esse ano os funcionários fizeram uma greve. Como foi resolvido esse problema e como está sendo a discussão em torno do Plano de Carreira? Tereza Cruvinel - A greve foi desnecessária, talvez um problema mais de comunicação do que um conflito propriamente dito. Quando tudo foi explicado, os funcionários voltaram a trabalhar imediatamente. Havia uma sobreposição de discussão de implantação do Plano de carreiras com a data-base. Separamos, negociamos e fizemos o acordo. O plano de carreira nós resolvemos discutir mais porque existem algumas questões que os funcionários não aceitaram bem. A idéia é que o plano aproxime mais os salários dos nossos funcionários com os do mercado. Agora ele não vai mais ser implementado este ano. Nós ainda vamos discutir alguns aspectos dele. Um plano de carreira é uma coisa duradoura e não pode ser feito assim. Se há coisas a discutir, vamos discutir. C-se - Como está a situação dos funcionários da Acerp? Tereza Cruvinel - A Acerp é uma organização social do terceiro setor. Não é Estado. Logo, ela não pôde, por força de lei, ser absorvida pela EBC como foi a Radiobrás. Agora, a situação deles está resolvida de forma estável. Não existe razão para se falar em demissões em massa. Não há nenhuma ameaça à estabilidade dos servidores. O contrato de gestão que mantém a Acerp funcionando será renovado agora em dezembro. C-se - Existe alguma previsão de concurso público ou contratação? Tereza Cruvinel - A EBC deve fazer concurso em 2009. Não sei quando, nem para que cargos, mas certamente ela precisará. Nós estamos expandindo, com a criação da sede de São Paulo. E o jornalismo carece de mais recursos humanos. Estamos criando programas novos e parte deles também será feito em São Paulo. Então, é possível que haja concurso em 2009, até porque é um ano bom para fazer concurso por não ser eleitoral. C-se - Tereza, como foi a sua adaptação? Você escrevia para um jornal, de grande circulação, e agora está na presidência de uma empresa pública. Tereza Cruvinel - Eu sinto saudade da televisão. Eu faço pouco vídeo. E tenho muita saudade de escrever. Mas às vezes eu faço algumas coisas. Escrever não tenho podido, a não ser documentos internos. Nas eleições eu fiz comentários e amanhã vai ao ar o Três a um com o Fernando Henrique de que eu participei. A gente faz alguma coisinha para matar a saudade. E na transição o jornalismo me ajudou muito, porque eu aprendi como funcionam as coisas, tanto no setor público como no privado. E já aprendi muito sobre engenharia, transmissão. Foi tudo muito rápido. Agora, continuo sendo essencialmente jornalista, mas eu acho que estou sendo uma boa executiva. C-se - Para finalizar, qual o grande desafio para o ano de 2009? Tereza Cruvinel - Na TV Brasil, particularmente, continuar avançando com a programação. Conseguir realizar todos os programas que não pudemos fazer esse ano. Nós temos muitas idéias, mas a gente precisa realizá-las. No aspecto de cobertura, ver se a gente consegue ampliar a nossa presença no Brasil. Agora, para a EBC como um todo, nós precisamos de um salto tecnológico. Nossa situação de tecnologia, em todas as áreas, é muito precária. Essa é a nossa grande deficiência.

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