sábado, 9 de maio de 2009

CASO YEDA: LEIA AQUI A MATÉRIA DA VEJA. DE GRAÇA.

O Caixa 2 do Caixa 2
Gravações e um depoimento da empresária Magda Koenigkan lançam uma nova sombra sobre o governo Yeda Crusius
. A governadora gaúcha Yeda Crusius, do PSDB, não tem sossego. Enfrenta acusações de ter usado caixa dois em sua campanha eleitoral desde antes de tomar posse, em janeiro de 2007. Fato espantoso, as primeiras denúncias partiram de seu vice, Paulo Feijó. Como se não bastasse, no mesmo ano, a Polícia Federal desbaratou uma máfia que desviava recursos do Detran gaúcho. Os escândalos ceifaram três secretários de governo e o chefe da representação do Rio Grande do Sul em Brasília, Marcelo Cavalcante. Em seguida, a governadora foi obrigada a explicar onde arranjou dinheiro para comprar, no fim de 2006, uma casa em um bairro nobre de Porto Alegre. O caso, que lhe rendeu um pedido de impeachment, acabou arquivado pelos promotores gaúchos. Em fevereiro passado, a morte repentina de Marcelo Cavalcante injetou uma dose de tragédia nas agruras do governo tucano. O corpo do ex-assessor foi encontrado boiando no Lago Paranoá, em Brasília. As investigações policiais indicam que ele se suicidou. Assessor de Yeda entre 2002 e 2006 e coordenador de sua campanha eleitoral, Marcelo conhecia o PSDB gaúcho na intimidade. Com seu desaparecimento, parecia ter se perdido uma das mais acuradas memórias da campanha e dos primeiros dias do governo Yeda. Era uma presunção falsa. Na mesma semana da morte de Marcelo, descobriu-se que os procuradores federais dispunham de gravações nas quais o ex-assessor relatava irregularidades na campanha e na gestão da tucana. VEJA teve acesso a parte desses áudios. A reportagem ouviu uma hora e meia das dez horas de diálogos mantidos entre Marcelo e o empresário Lair Ferst, um dos acusados de participar dos desvios no Detran gaúcho. Neles, fica claro que o ex-assessor conversava com liberdade com Ferst, que o ajudara a arrecadar dinheiro para a campanha tucana. Nos trechos analisados por VEJA, há três fatos que merecem ser investigados.
• De acordo com Marcelo, Yeda recebeu dinheiro no caixa dois depois que a eleição terminou. Ele conta que, após o segundo turno, coletou 200 000 reais da Alliance One e outros 200 000 reais da CTA-Continental. São duas fabricantes de cigarros que, segundo Marcelo, fizeram as doações em espécie. O ex-assessor diz que entregou esse dinheiro a Carlos Crusius, marido da governadora. Procurados por VEJA, os executivos da Alliance One negaram ter abastecido qualquer caixa dois e mostraram um recibo que comprova a transferência bancária de 200 000 reais para o diretório estadual do PSDB. Já a CTA-Continental contesta ter feito qualquer doação à tucana. "Se me perguntar se me pediram dinheiro, direi que sim. Mas não levaram", diz Allan Kardec Bichinho, presidente da empresa.
• Marcelo afirma que algumas despesas do comitê eleitoral de Yeda foram custeadas pela agência de publicidade DCS, que não prestava serviços à campanha nem fez doações oficiais. Segundo o ex-assessor, a DCS pagou, por exemplo, suas passagens aéreas e diárias no flat Swan Molinos, em Porto Alegre. Após a eleição, arcou com recepções oferecidas por Yeda em sua casa. Depois que ela tomou posse, a agência continuou quitando as passagens e diárias de Marcelo. Yeda renovou os contratos que o Banrisul mantinha com a DCS. A VEJA, a agência negou ter pago essas contas.
• O ex-assessor diz que avisou Yeda sobre o esquema de corrupção no Detran gaúcho e conta ter entregado à governadora uma carta de oito páginas na qual o empresário Lair Ferst descrevia o modo como os recursos eram desviados da repartição. Ferst escreveu essa carta para tentar livrar-se da suspeita de envolvimento no esquema.
A reportagem de VEJA teve acesso a esses áudios há quarenta dias. Só os divulga agora depois de ter encontrado uma fonte com credenciais suficientes para comprovar sua autenticidade. Ela é uma testemunha que também ouviu as gravações e assegura que Marcelo reconhecia como legítimo o seu conteúdo. Mais: o ex-assessor relatou-lhe os mesmos fatos. Essa testemunha, Magda Cunha Koenigkan, foi companheira de Marcelo. Dona de uma revista brasiliense, a Sras&Srs, ela relutou em revelar o que sabia. Temia perder o apoio financeiro para sua revista por parte de governos aliados de Yeda.
Magda diz que decidiu correr esse risco em nome da memória do homem com quem viveu por quinze meses. Em cinco horas e meia de entrevista a VEJA, contou que Marcelo soube da existência dos áudios, gravados por Lair Ferst, em novembro de 2007. "Lair mostrou as gravações e disse que as entregaria às autoridades para provar que os responsáveis pelos desvios no Detran eram integrantes do governo Yeda, e não ele", lembra Magda. Ao ouvir isso, seu companheiro se desesperou: "Entrou em depressão e passou a beber".
De acordo com ela, Marcelo parecia ter reencontrado o equilíbrio em janeiro deste ano, quando aceitou confirmar o conteúdo das gravações aos procuradores federais que apuram o episódio. Chegou a marcar uma data para seu depoimento, mas morreu duas semanas antes da audiência. As declarações de Magda, segundo ela ouvidas diretamente de Marcelo, são desastrosas para o governo tucano do Rio Grande do Sul. Elas mostram uso de caixa dois e desvio de recursos eleitorais para aumento de patrimônio pessoal.
A presente reportagem revela que os áudios existem e que Magda Koenigkan diz ter ouvido do namorado o atestado de sua legitimidade. Mas os áudios não são provas processuais e, a VEJA, Yeda afirmou desconfiar de sua autenticidade. O PT já coletou catorze das dezenove assinaturas necessárias para constituir uma CPI na Assembleia Legislativa com o objetivo de investigar essas suspeitas. Só a CPI e as demais autoridades podem decidir se as gravações são evidência legal dos desvios ali narrados.
A empresária Magda Koenigkan viveu quinze meses, a partir do fim de 2007, com Marcelo Cavalcante, coordenador de campanha de Yeda Crusius, encontrado morto em fevereiro passado. Ela relatou a VEJA as confidências que seu companheiro lhe fez sobre irregularidades que teriam sido cometidas em nome da governadora gaúcha.
Como era a relação de Marcelo Cavalcante com Yeda Crusius? Era assim: na campanha ela ligava para ele a todo instante e pedia: "Marcelinho, precisamos arranjar 10 000 reais para isso e aquilo". E ele arranjava. Era ele, então, quem coletava doações? Se havia um dinheiro para receber, Marcelo pegava e entregava a Carlos Crusius (marido da governadora). No começo (da campanha), tinha de convencer as pessoas a colaborar. Quando Yeda começou a subir nas pesquisas, ficou mais fácil. Vinham 200 000 reais dali, 100 000 de lá. Só que esse dinheiro não entrava para o caixa. Ia para onde? Olha, entre o fim do segundo turno eleitoral e a semana posterior à eleição, Marcelo recebeu 400 000 reais de dois fabricantes de cigarro, 200 000 de cada um. Ambos pediram para que a verba não fosse entregue oficialmente. Então, foi para o caixa dois. Marcelo falava em caixa dois? Até do caixa dois do caixa dois. Marcelo deu os 400 000 reais a Carlos Crusius no comitê da campanha. Crusius agradeceu e foi para uma sala mais reservada, enquanto Marcelo conversava com fornecedores que esperavam para receber o dinheiro que lhes deviam. Aí, Crusius apareceu e disse: "Quero me desculpar. Não conseguimos o dinheiro. Vamos precisar de mais um prazo. Espero sua compreensão". Como Marcelo reagiu? Foi tirar satisfações com Crusius. Ele sempre me repetia essa história. Contava que disse a Crusius: "Como não tem dinheiro? Entreguei na sua mão". Marcelo acreditava que Crusius escondia tudo da governadora. Mas ela justificou a história. Chegou e disse: "Marcelinho, Crusius quer pagar uma dívida antiga nossa que está apertando a gente e, se sair na mídia, não vai ser bom". Marcelo se indagava sobre que dívida era aquela. Ele, que cuidava das finanças dela, não conhecia essa dívida. O que foi feito dos 400 000 reais? Passado algum tempo, Crusius finalizou a compra de uma casa. Pelo que o Marcelo contava, usou os 400 000 reais nisso. A casa da governadora? É. O Marcelo falava que o pai de um dos secretários da governadora simulou ter comprado um apartamento dela na praia. Teria sido uma venda forjada para mostrar que ela tinha renda para comprar a casa. Contou também que a casa custou cerca de 1 milhão de reais, talvez mais. Mas esses 400 000 foram entregues por baixo do pano (ao vendedor). Marcelo relatou-lhe outras irregularidades? Sim. Quem pagava as passagens aéreas e hospedagem para o Marcelo e a equipe da campanha de Yeda? O caixa dois. Marcelo se hospedava no hotel Swan Molinos (em Porto Alegre). Quem pagava era uma agência de publicidade, a DCS. Arcava também com os jantares que a governadora fez antes e depois da eleição. Houve irregularidades antes da campanha eleitoral? Marcelo contou que, quando ela era deputada, todo mês entravam cerca de 10 000 reais de um sindicato (Sindicato da Indústria da Construção de Estradas, Sicepot). O dinheiro ia diretamente para a governadora. Quem pegava era uma mulher contratada pelo Marcelo, Walna Vilarins (atual coordenadora de ações administrativas do governo gaúcho). Por que Marcelo participou do governo Yeda, mesmo sabendo desses fatos? Houve um momento em que ele mudou. Em novembro do ano passado, chegou ao conhecimento dele que havia áudios em que ele falava sobre as doações de campanha, como funcionava o pagamento da hospedagem da equipe e a compra da casa. Marcelo ficou muito angustiado e apreensivo. Quem gravou esses áudios? Outro integrante da campanha de Yeda, Lair Ferst. Ele ajudou Marcelo a arrecadar dinheiro. Entre 2006 e 2007, eles se encontraram diversas vezes. Em novembro, Lair contou a Marcelo que tinha gravado todos esses diálogos e que ia entregá-los à Justiça. Marcelo avisou o governo Yeda? Sim. Sugeriu que fizessem um acordo com Lair. Disse que havia muitos indícios do caixa dois e que Lair tinha ido com ele pegar dinheiro em empresas que não aparecem em lugar nenhum na receita declarada de campanha. A senhora ouviu as gravações? Ouvi. São conversas em barzinhos. Em janeiro, Marcelo foi procurado pela Justiça para confirmar se a voz nas gravações era dele e se tudo aquilo que ele dizia nelas era verdade. Estava com depoimento marcado entre a semana do Carnaval e a seguinte, mas morreu antes disso... Marcelo lhe disse que iria confirmar que a voz das gravações era dele? Sim.

YEDA RESPIRA POR INSTRUMENTOS

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Podridão do governo gaúcho vem à tona e deixa governadora tucana com o pé na cova

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Desta vez, não é "coisa do PT". As revelações sobre as bandalheiras de Yeda Crusius - desde antes e durante seu governo - estão na edição desta semana da revista Veja que, como sabemos, é um dos house organs do PSDB. Sujeira tão grossa, que ficou impossível ser varrida para baixo do tapete (talvez a RBS tente um boca-a-boca em troca de uns pilas a mais na conta da "agenda positiva"...).

A reportagem completa está disponível apenas na versão impressa, mas só o tira-gosto da edição digital já é suficiente para mandar a tresloucada para a UTI. É o fim da linha para as empulhações e para o autoritarismo de Madame Zureta.

Clique aqui para conferir, enquanto preparamos a mortalha.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

O REI DA VELA

A impagável sacada é do Jurandir Paulo, titular do blog Abunda Canalha, que visitamos amiúde. Gostou? Então, vá até lá conferir a "versão extended".

FOLHA ENVIA FLORES À MISSA DE TORTURADOR

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Na última quarta-feira, 6, os órfãos da ditadura, comovidos, patrocinaram Missa de Réquiem em memória do "Doutor Barreto", o carniceiro que, na vida civil, atendia por Sérgio Paranhos Fleury, delegado da polícia paulista e proficiente colaborador da OBAN - Operação Bandeirante. A solenidade ocorreu nas dependências da Igreja N. Sra. de Fátima, no bairro do Sumaré, zona oeste paulistana. Entre as coroas florais que ali abundavam, chamava a atenção um arranjo de crisântemos, gérberas e copos-de-leite com um bilhetinho manuscrito* : "Tio, você continua vivo em meu coração, e farei o que for possível para reabilitar a grandeza de sua biografia. Que saudade daqueles passeios que a gente fazia nas peruas C14 de papai...Ass: O.F.F". . *A autenticidade do documento não pode ser assegurada - bem como não pode ser descartada.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

A RBS E O MUNDO ENCANTADO DO JABÁ

Conforme este Cloaca News já denunciou e provou aqui e aqui, o mais importante telejornal da RBS TV, afiliada gaúcha da Globo, é, na verdade, uma grande central de jornalismo-michê. Nesta quinta-feira, por exemplo, os telespectadores do Jornal do Almoço que pretendiam informar-se dos alarmantes casos de febre amarela no Estado, ou dos vários escândalos de corrupção e incompetência administrativa envolvendo a governadora tucana Yeda Crusius, ou mesmo das conseqüências da impiedosa estiagem que esturrica o Rio Grande do Sul tiveram que esperar quase 12 (doze!!) minutos até que o cast de jornalistas da emissora terminasse de apresentar a reluzente reportagem-boquete negociada com uma feira comercial de Soledade, município a 220 quilômetros de Porto Alegre, tradicional entreposto de pedras semipreciosas.
Quase a metade do tempo "útil" do "noticioso" prestou-se a um acintoso informe publicitário travestido de reportagem. E que momento glorioso da televisão brasileira avistar o comentarista político e porta-voz dos Barões Sirotsky desfilar pelos corredores da ExpoSol entrevistando ametistas e citrinos! Logo ele que, da última feita, não economizou panegíricos a uma mesa de salames em evento doutra freguesia. "Estamos aqui neste mundo encantado das pedras coloridas!", exultou o veterano profissional, que não se deixou ofuscar pelos perendengues de turmalinas e berilos.
Não tivemos acesso, desta vez, às cifras oficiais da negociação. Mas podemos afirmar, peremptoriamente, que a penúltima investida do "jornalismo" da RBS beliscou, limpinhos, nada menos que trezentos mil reais.
Confira aqui mais essa jóia da imprensa venal.

MEA CULPA: FRAUDAMOS

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A despeito do caráter galhofeiro exibido pelo "recibo" que postamos ontem (veja abaixo), constatamos que, mesmo assim, vários leitores o tomaram como um documento digno de fé. Alguns, mais atentos, notaram que o CPF do "recebedor" possuía "12 dígitos, quando o certo é 11", ou mesmo quem informasse que "o CPF é inválido". Na verdade, aquele número é o telefone de um jornalão paulista, famoso por estampar lixo de internet em sua primeira página. Mesmo o campo "Matrícula (CGC OU INSS)" continha outra brejeirice: trata-se do Código de Endereçamento Postal - CEP - de certo imóvel da Alameda Barão de Limeira, na capital paulista. O título da postagem, por sua vez, trazia o verbo no tempo futuro do pretérito, recurso idêntico ao de que se vale certa imprensa de coloração castanha para lançar suspeitas sobre alguém sem, no entanto, fazer uma acusação.
Curiosamente, a única verdade apresentada em nossa postagem estava no texto abaixo da imagem, por ironia, idêntico ao publicado recentemente pela gazeta serrista ao se "desculpar" por ter publicado uma ficha absolutamente falsa da Ministra Dilma Rousseff na capa de uma de suas edições dominicais. Perdão, leitores. Mentimos. Ou não.

EXCLUSIVO: JORNAL ESTARIA PAGANDO BÔNUS A COLUNISTAS QUE ESCULHAMBAM GOVERNO LULA

A veracidade da informação e a autenticidade do documento acima não podem ser asseguradas - bem como não podem ser descartadas.

O ESCALAFOBÉTICO PLANO DA TUCANA ESTRAMBÓTICA PARA SEPULTAR A EDUCAÇÃO (e a fuleiragem de um jornalzinho sabujo)

O tablóide gaúcho Zero Hora (aquele que recebe 80% das verbas publicitárias estaduais de mídia impressa) publica uma fenomenal reportagem em sua edição de hoje.
Diante do anúncio feito pela apombocada senhora Mariza Abreu, secretária de Educação de Yeda Crusius (aquela supostamente corrupta), de que pretende agrupar todas as disciplinas dos ensinos Fundamental e Médio do Rio Grande do Sul em apenas quatro áreas, o jornalóide da RBS apresenta o ribombante título: "O que vai mudar na sala de aula". Em seguida, transcreve o press release governamental, enfileirando as "mudanças": professores de Química, por exemplo, passarão a lecionar, também, Física e Biologia. Professores de Português deverão ir para as quadras ministrar aulas de Educação Física - e vice-versa, claro. Coisa pouca, como vemos. E, qual seria "o modelo em que a Secretaria de Educação se baseia?" - indaga a gazetinha para si própria, à guisa de jornalismo interpretativo? Por favor, não ria da resposta: "É inspirado em experiências de escolas paulistas, mineiras, portuguesas e argentinas". Na edição impressa, esse portentoso feito de reportagem ocupa cerca de 2/3 (dois terços) de página, e, como sabemos, um tablóide é um tablóide. Considerando que a leitura de tal peça não ocupará muito de seu tempo, sugerimos que você clique aqui e testemunhe o lúgubre anúncio do passamento da Educação pública gaúcha. O jornalismo, não custa salientar, desceu à cova faz tempo.
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FOTO: BOLO NEGA MALUCA

segunda-feira, 4 de maio de 2009

COMO A DITADURA SUFOCOU A IMPRENSA NANICA

Reportagem do Estadão de hoje, assinada por Wilson Tosta. .
Uma operação secreta de uso da Receita Federal para exterminar a imprensa alternativa foi desencadeada entre 1976 e 1978 pelo governo Ernesto Geisel (1974-1979), mostram documentos sigilosos da extinta Divisão de Segurança e Informações do Ministério da Justiça (DSI-MJ) obtidos pelo Estado.
Embora notabilizado pela suspensão da censura a jornais, pelo fim da tortura de presos políticos e pela distensão "lenta, segura e gradual", o general, penúltimo ditador do ciclo militar de 1964, autorizou a ofensiva contra os pequenos veículos em despachos com o então ministro da Justiça, Armando Falcão. O ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen, concordou com a ação, proposta pelo II Exército - hoje Comando Militar do Sudeste, de São Paulo.
A autorização de Geisel para um ataque fiscal ao jornal Versus está documentada em ofício de 1º de setembro de 1978. Nele, o chefe de gabinete do Ministério da Justiça, Walter Costa Porto, transmite pedido da Polícia Federal para liberar a ação. A resposta vem manuscrita. "Confidencial. Conversei, no despacho de hoje, com o Exmo. Sr Presidente da República, que aprovou a medida", escreve Falcão. "Prepare-se, assim, o competente expediente ao Sr. Ministro de Estado da Fazenda. Em 11.9.1978. A. Falcão." Uma lista com Versus e outras 41 publicações que deveriam sofrer o mesmo processo da Receita, entre elas O Pasquim e Movimento, integra o dossiê.
Nos documentos, a operação secreta é tratada com naturalidade pelos ministros e por integrantes de órgãos de repressão, em correspondências oficiais de 1976 a 1978. Simonsen, por exemplo, em ofício de 1º de abril de 1977, solicita que "as indicações das empresas a serem auditadas sejam acompanhadas de todas as informações disponíveis no Ministério da Justiça e nos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Informações, bem como sejam instruídos os órgãos regionais e sub-regionais do Departamento de Polícia Federal (...)." E expõe o objetivo: "Subsidiar a aplicação de providências legais (...) no sentido de promover, se for o caso, o encerramento de atividades desse tipo de empresa".
Em outro ofício, de 26 de abril de 1978, Costa Porto encaminha informação do "senhor ministro-chefe do SNI" - João Figueiredo, posteriormente presidente da República. Ele reproduz o texto de Figueiredo: "Considerando que a imprensa nanica continua proliferando, conclui-se que a operação dos Ministérios da Fazenda e Justiça, visando a retirar de circulação esses jornais cuja viabilidade econômica é questionável, está resultando infrutífera".
O mesmo Costa Porto, em documento de 1º de setembro de 1978, mostra que Geisel acompanhou a operação contra os alternativos por muito tempo. Ele lembra a Falcão que, em 1º de agosto de 1977, o ministro da Justiça levara o assunto ao presidente, que "decidira, verbalmente, aguardar".
Humberto Barreto, ex-secretário de Imprensa do presidente, nega ter sabido dela. "Por mim, não passou", diz. O ex-senador e ex-ministro Jarbas Passarinho também diz desconhecer a articulação. "O que eu ouvia dos líderes do presidente é que ele tinha aberto a liberdade de imprensa, exceto para a imprensa nanica", explica. "Ela era muito violenta." Falcão foi procurado, por intermédio de familiares, mas não deu entrevista. Em seu livro Tudo a Declarar, não menciona o ataque fiscal, mas reconhece que centralizou a censura. Geisel morreu em 1996, e Simonsen, em 1997.
O processo "de caráter sigiloso" foi iniciado no Ministério da Justiça pelo Ofício 341/Sec/Gab, de 9 de setembro de 1976. No texto, o diretor-geral da PF, Moacyr Coelho, envia a Falcão documentação do II Exército "contendo sugestão de emprego dos órgãos fazendários, dentro da área de esfera de suas atribuições, na fiscalização de publicação de influência ou orientação esquerdista".
A Informação número 1.343/76-CB, de 23 de agosto de 1976, da 2ª Seção do Comando da Força em São Paulo, alertava que a ação policial da censura vinha criando uma série de incidentes que desgastavam o governo e serviam de "bandeira para as esquerdas mobilizarem a classe jornalística". Acrescenta, ainda, ser "mais eficaz a censura fiscal", que poderia determinar "o fechamento de tais publicações pela atividade de fiscalização".
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O jornal promete para amanhã apresentar documentos da ditadura sobre a prisão e a morte do deputado Rubens Paiva.

domingo, 3 de maio de 2009

DOMINGÃO DO CLOACÃO

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Enquanto a imprensa cabocla esfalfa-se atrás de uma peste para derrubar o Presidente Lula, desopile-se aqui
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Selecionamos mais uma singela crônica do escritor e jornalista maranhense Lago Burnett, do livro "A Língua Envergonhada", coletânea publicada em 1976, “revista e aumentada” em 1991. O texto a seguir foi publicado originalmente em 14 de abril de 1971, no finado Diário de Notícias, do Rio de Janeiro.
OS PALAVRÕES Não é pouco o que o homem sofre, desde o nascimento. Na doce algazarra do Veloso, meditávamos, um domingo, Carlos Alberto Teixeira e eu, partindo de uma observação dele sobre os muitos insultos que a gente é obrigado a levar para casa. Admira que a censura, tão zelosa na contenção dos palavrões, não tenha ainda retirado de circulação centenas de nomes feios que jamais deveriam ter saído daquele "estado de dicionário" a que se refere Drummond. Mal (ou bem) nascidos, tacham-nos de nascituros e até a morte, quando nos acondicionam em féretros, são muitas as humilhações vocabulares. Se casamos, viramos cônjuges; se permanecemos solteiros, nos chamam de celibatários. Na rede bancária é, com certeza, onde a descortesia nos atinge mais impiedade: somos tomadores, sacados, endossantes. Na Justiça ou polícia, não passamos de depoentes, manteúdos, de cujos, declarantes ou liticonsortes. Até mesmo no edifício onde moramos temos cognome: somos condôminos. Escritor que entra na Academia vira recipiendiário, enfermo é paciente, poeta é vate, menestrel bardo, aedo ou rapsodo. Quem não tem casa é inquilino ou locatário. Para aumentar a confusão, já houve quem quisesse, neste país, que motorista fosse tratado por cinesíforo, piquenique por convescote e futebol por balipodo. Meu Brasil, eu te amo! Ai, que saudade de São Luís, onde a vida decorre tão sem pressa, que as pessoas se dão ao luxo de usar polissílabos e paroxítonos! Humilha saber que, na vida, não passamos de usuários, optantes, aficcionados, litigantes, querelantes, contribuintes, emitentes, circunscritos, mutuários, segurados, beneficiários, convocados, confrades, correligionários, pensionistas, cooperativados, inadimplentes. Como sair desse preciosismo gongórico? O jeito é revidar. Como dizia aquele torcedor pouco letrado, ante a iminente derrota do seu time: "Arrecua os rafes pra evitar a catastre!" Se, alhures, alguém obtemperar, de inopino, de forma assaz peremptória, que é improfícuo o embate, a gente, de bom alvitre, se escafede e dá às de Vila Diogo, não obstante o óbvio e ingente afã de ir à liça. Dizer palavrões, afinal, não é privilégio só do Estado e das instituições, como diz Leila Diniz. Dela por exemplo, diz-se que que os emprega com muita propriedade: fá-lo com graça. E não disputa, na Praça Tiradentes, a volta do teatro picaresco. E, por falar em teatro, diante de tudo aqui exposto, teve razão de ser, algum dia, a campanha "Vamos ao Teatro"? Se, aqui fora, na rotina do dia-a-dia, estamos sujeitos a toda sorte de insultos, inclusive cardíacos, por que buscá-los nas casas especializadas do ramo? Mero signatário no momento, postulante de uma vida melhor quase sempre, sou, como toda gente, uma vítima de rótulos eventuais. Mas, ao fim de um dia de inevitáveis classificações, consola constatar, a sós, despidos de etiquetas e letreiros, que não somos requerentes, apelantes, promitentes, votantes ou recenseados. Somos gente, simplesmente. E é nessa humilde condição que reivindicamos à Comissão Internacional dos Direitos do Homem a inclusão de um item contra esse abuso discriminatório que avilta a espécie e despersonaliza o indivíduo.
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O Departamento de Dragagem do Cloaca News informa: agora, na Folha de S.Paulo, os restaurantes também voam.
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