Não é difícil ser um bom professor. Bastam: um modesto currículo constante de três anos de Jardim da Infância, oito (ou seriam nove?) de Ensino Fundamental, três de Ensino Médio, quatro de faculdade (de preferência na Inglaterra) e mais dois de especialização (de preferência na França ou na Alemanha).
Deverá carregar, também, mais uns 20 diplomas, não fazendo mal Filosofia, Inglês, Artes Plásticas, Música, Francês, Espanhol e duas línguas germânicas; cursos de Oratória, impostação de voz e de leitura dinâmica. Deve gostar de futebol, das discussões sobre o assunto e de esportes em geral. Deve estar sempre em dia com os noticiários internacional e nacional. Conhecer as falhas do ensino moderno, para não aplicá-las, e do antigo, para não redescobri-las. Sobretudo, procurar reformular tudo sempre.
Ter um saco de Jó para tratar igualmente todos os pupilos, sem nunca dar mais atenção a um do que a outro, sem esquecer de puxar o dos diretores – afinal, o professor precisa sobreviver, pô! E, além de tudo, ser simpático, talentoso nem se fala, esperançoso e perseverante. Conseguir falar a mesma coisa durante horas a fio sem se tornar chato, agüentando ninguém lhe prestar a mínima atenção.
E mais: não sentir alergia a pó de giz; saber impor a disciplina sem perder a esportiva e não se irritar nunca com as brincadeiras dos alunos. Saber reconhecer uma cadeira quebrada a 500 metros de distância, para não se sentar nela. E, se sentar, não cair. E, se cair, fingir que não foi nada. E, se doeu, agüentar a mão. E se não der para agüentar, pelo menos não desmunhecar.
Manerar com os alunos que não aprendem; com os que aprendem, mas não estudam; e com aqueles que aprendem, estudam e, irritantemente, sabem mais que ele, professor.
Ficar contente em dedicar seus fins de semana à correção de provas, elaboração de apostilas e outros exercícios variados. Esquecer seus probemas pessoais em casa. Ser um liberal; defender sempre os jovens, seus ideais, suas exigências e até seus cacoetes. Ser condescendente até o último dente e, por falar em dente, jamais estar carrancudo. Compreender que a matéria que leciona é um tremendo saco e que se fosse outra, a turma, possivelmente, colaboraria muito mais.
E, naturalmente, ao receber no final do mês os R$ 950 de seu salário – já incluídas as gratificações, adicionais por tempo de serviço e demais benefícios do Plano de Carreira – jamais esquecer que, neste país, o aluno é sempre um tremendo injustiçado.
Um comentário:
A oposição fala muito , mas na hora da verdade defendem os interesses dos poderosos.Isso há mais de quinhentos anos.
Eles falam muito em investimentos para poder roubar os impostos que pagamos.
APOSENTADO INVOCADO
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