O tablóide Zero Hora, de Porto Alegre, já não faz mais questão sequer de dissimular seu espírito venal e lambeteiro. Não bastasse seu protagonismo histórico como porta-voz e baba-ovos das oligarquias do Brasil Meridional, agora o diário mais importante do grupo RBS não vê qualquer problema em se prestar, também, ao papel sujo de house-organ do governo corrupto e despótico da tucana Yeda Crusius. A cobertura feita pelo jornalzinho sobre as reinvidicações dos professores da rede estadual e sobre a greve do magistério gaúcho, decretada na última sexta-feira, escancara, para quem quiser ver, sua escolha pela depravação jornalística e pela degeneração moral.
Mal o CPERS, o sindicato dos professores da rede pública estadual, anunciou que a sua Assembléia do dia 14 decretara a greve, Zero Hora já lançava seu primeiro míssil terrorista: "Comércio teme ser prejudicado pela greve dos professores estaduais". Ao mesmo tempo, já acionava sua infantaria, estrategicamente plantada, para colher as falas da governadora tucana e de sua adestrada Secretária da Educação, condenando a decisão. Tudo concatenado, para que as “notícias” se sucedessem rapidamente, aniquilando qualquer tentativa de contra-ofensiva por parte do que ZH chama, cinicamente, de “o outro lado”.
Veja a sucessão de chamadas e sub-títulos publicada em suas edições digital e impressa neste fim de semana:
" Secretária da Educação pede que os pais mandem os filhos para a escola segunda-feira"
“Mariza Abreu enviou documentos com recomendações às escolas”
“Em nota, secretaria da Educação reforça que ponto dos grevistas deve ser cortado”
"Mariza Abreu comentou paralisação dos professores”
“Greve do magistério já deixa alunos sem aulas em escolas de Porto Alegre”
“Esta é a primeira paralisação votada às vésperas do término do ano letivo”
“SEC traça plano contra a greve do magistério”
“Ponto dos grevistas será cortado”
“A paralisação ameaça o ano letivo, sim”
( “entrevista” de três perguntas com a presidente do CPERS)
“SEC traça plano contra a greve”
Em nenhum momento – NENHUM! – o jornal publicou qualquer análise crítica honesta, contextualizando com propriedade os acontecimentos. Não se leu uma linha sequer questionando o caráter autoritário – fascista mesmo – do Decreto 45.959, assinado há poucos dias por Yeda Crusius, e insistentemente invocado agora para aterrorizar os servidores “rebeldes”. Não se vê qualquer de seus iluminados editorialistas esmiuçando o projeto de piso salarial enviado pelo governo tucano à Assembléia Legislativa – e que motivou a decretação da greve – , na contramão da lei federal que instituiu o Piso Nacional do Magistério. Nenhum repórter com crachá de Zero Hora foi visto no Palácio Farroupilha ouvindo os deputados a respeito do famigerado projeto, a favor ou contra. Se considerarmos que o tal projeto foi enviado em caráter “de urgência”, é sintomático o silêncio do jornaleco.
A “indignação” de Zero Hora não é pelo sucateamento da Educação no Estado; não é pelo desmazelo tucano com o funcionalismo, tampouco com o a suposta “perda” do ano letivo dos alunos da escolas estaduais. Zero Hora sempre se lixou para o verdadeiro interesse público. Seu negócio não é o Jornalismo, assim, com maiúscula. No momento, o “negócio” de Zero Hora – e de todos os veículos do pérfido grupo RBS – é livrar a cara da governadora tucana que ajudaram a eleger. É mascarar, esconder, iludir, embaçar, deturpar, obstruir, adulterar, até mentir, qualquer coisa, desde que a verdadeira – e tenebrosa – face da atual inquilina do Piratini não venha à tona. Qualquer problema, chame a Tropa de Choque da Brigada Militar. Não foi à toa que o comando da briosa corporação foi entregue a um celerado. Tem agricultor sem-terra marchando na rua? Pau nesses vagabundos! Tem professor reclamando das condições de trabalho? Dá-lhe bomba na cabeça desses baderneiros! É disso que Zero Hora gosta. É esse o tipo de notícia que leva seus colunistas aduladores ao êxtase. A greve do magistério gaúcho, aliás, caiu como uma luva para esses mercenários da informação: terão material suficiente para tirar de foco as falcatruas, mutretas e demais escândalos envolvendo o governo tucano e sua base de apoio parlamentar. Ou, ao contrário, poderão tratar de tudo sem falar de nada. Como sempre.