Em julho de 2007, segundo informações divulgadas na época pelo jornal canadense Corriere Canadese, a repórter Renata Malkes, correspondente da Rede Globo no Oriente Médio, foi presa por autoridades libanesas por falsidade ideológica e "espionagem". Renata tem dupla cidadania - israelense e brasileira - e estava no sul do país, próximo a Linha Azul, que há vários anos separa o Líbano de Israel. À época, Renata também trabalhava para o jornal israelense Yediot Aharonot - o mesmo que, tempos antes, havia distinguido seu blog "Balagan" como um "warblog", pela excelência da propaganda sionista. Junto com ela também foi detida outra jornalista, Lisa Goldman, nascida no Canadá. Para ler a notícia do Corriere Canadese, clique aqui.
O caso ganhou certa repercussão na imprensa dos países da região. Cobriram o episódio, entre outros veículos, o jornal Daily Star, do Líbano, a TV Al Jazeera, do Catar e uma batelada de jornais e TVs israelenses.
De volta à Israel, em 16/07/2007 Renata Malkes postou a seguinte mensagem em seu blog "O outro lado da Terra Santa (o Oriente Médio que você nunca viu)", homiziado no portal do jornal O Globo:
"A gente sabe que fez uma coisa grande quando abre a porta para o entregador de pizza e ele diz "Eu te vi na TV esses dias. Não foi você que esteve no Líbano?". Se não estivesse morta de fome, acho que tinha fechado a porta de tanta vergonha. É, minha visita ao Líbano deu muito o que falar aqui na Terra Santa. Além da produção de uma série especial para a TV Record e duas matérias em O Globo, publiquei ainda uma série de três reportagens no Ynet onde já trabalhei no passado, e no jornal Yediot Aharonot. Podem espiar a série aqui, aqui e aqui. Pois é. Uma rápida visita de 12 dias ao país dos cedros acabou me dando cinco minutinhos de fama aqui em Israel. Dei entrevistas em rádio e tv e trabalhei horrores para fechar o material de todos os veículos a tempo. Ao contrário do que muita gente pensa, no entanto, não deu para curtir o pequeno sucesso muito não, viu? O estresse não permitiu. Em fração de segundos, a fama cruzou fronteiras e esta humilde blogueira virou manchete ainda na Al Jazeera e na TV Al Manar, a tv do grupo guerrrilheiro xiita Hezbollah. O grupo não gostou nada de saber que uma repórter brasileira-israelense andou circulando pelo território libanês e, segundo fontes libanesas, minha cabeça está "a prêmio"por lá. Afinal, "como pode ser que um inimigo sionista circule livremente pelo Líbano?" (sic). Pena. Foi uma jornada longa e posso dizer que a mais difícil dos meus nove anos de carreira como jornalista. Mentir sobre a origem, evitar detalhes da vida em conversas informais e enganar pessoas que me ajudaram tanto foram tarefas terríveis e eu confesso ter sofrido bastante por conta disso. Foi o preço que paguei para cumprir minha missão. Ocultei e preservei todas as fontes, não revelei detalhes de locações, não falei mal de ninguém e, ainda assim, querem minha cabeça no Hezbollah pelo simples fato de ter vindo de Israel. Enfim, estou de volta. Muito chateada com toda a repercussão do caso, mas feliz por ter feito um bom trabalho. O pior de tudo isso é constatar que vivemos num mundo ruim , cheio de ódio [grifo do Cloaca]. Não que não soubesse disso, mas sentir esse ódio na pele é muito diferente. Angustiante. Desde os dias em que circulei pela cosmopolita Beirute, pelo belíssimo Vale do Beqaa e pelos vilarejos semi-destruídos do sul do Líbano, ficava imaginando qual seria a reação de dezenas de pessoas que sorriam para mim e me tratavam tão bem se soubessem de onde eu vinha. Foi uma pergunta que nunca calou. Desafios que a profissão impõe. São os chamados ossos do ofício mesmo. A partir de amanhã vou contar em alguns posts os bastidores da aventura no Líbano. A foto é em Naqura, no sul do país.
A palavra do dia em hebraico hoje é "itkarvut". Em bom português, "aproximação"."
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Algumas observações deste nosso Cloaca News: ao dizer que "não falei mal de ninguém e, ainda assim, querem minha cabeça no Hezbollah pelo simples fato de ter vindo de Israel", a repórter-soldado talvez não tivesse levado em conta que os insultos que ela dirigiu aos árabes em geral ("burros", mentirosos" etc) ainda estavam disponíveis em seu "warblog" Balagan. Ela só lembrou de deletar as postagens no dia 11 de agosto.
Sobre a "palavra do dia", no final do post, só pode ser um chiste, é ou não é?