1994. Tempos de FHC. Antenas parabólicas captaram uma conversa informal entre o ministro da Fazenda, Rubens Ricúpero, e o repórter da Rede Globo, Carlos Monforte, antes da gravação de uma entrevista no estúdio da emissora, em Brasília, na noite de 1/9. No sábado, dia 3, um mês antes do primeiro turno das eleições, a Folha de S. Paulo publicou o surpreendente diálogo. Quando a gravação começa, o assunto é a taxa muito alta do IPC-r de agosto, índice que a equipe econômica encomendara ao IBGE. Ricúpero ataca o instituto: "Eles fizeram um tremendo erro metodológico. ( ... ) Há uma tese também, um grupo que diz que o IBGE é um covil do PT". Referindo-se aos empresários, confirma a queda das alíquotas de importação para segurar os preços, "o único jeito de garantir que não vai faltar produto, porque esses caras... Porque você está jogando aí com bandidos, você entende. É tudo bandido. Você conhece aquela história da máfia?" Instado pelo repórter a anunciar as indicações de uma taxa bem menor do IPC-r em setembro, alega que deveria conversar primeiro com os economistas da Fazenda, "senão eles me matam. (...) Vão dizer: 'Pô, você proibiu da vez anterior que era ruim, agora que é bom...' No fundo é isso mesmo. Eu não tenho escrúpulos. O que é bom a gente fatura, o que é ruim, esconde". Monforte muda de assunto: "Uma curiosidade minha: você andou batendo no PSDB, dando umas porradinhas? ". E Ricúpero: "A única forma que eu posso provar meu distanciamento do PSDB é criticar o PSDB ". Outra pergunta: "Esse negócio da gasolina não é um pouco precipitado? Falar que pode baixar o preço e tal? ". 0 ministro justifica: "Eu faço essas coisas um pouco por instinto, sabe? De vez em quando armo uma confusão. Não tenha dúvida: esse país não é racional". Em seguida, se oferece: "Se quiser, neste fim de semana podia ver o negócio do Fantástico. Posso gravar também, se quiser alguma coisa, eu estou à disposição. Quem é que é? É o Alexandre? (...) Pode falar porque eu estou disponível. Eu vou ficar aqui o fim de semana inteiro (...) o máximo que eu puder falar eu falo ". Sobre seu futuro, esnoba: "O governo precisa muito mais de mim do que eu dele " e, "se tudo der certo ", o problema será FHC "explicar não me convidar. (...) há inúmeras pessoas que me escrevem e me procuram para dizer que votam nele por minha causa. (...) para a Rede Globo foi um achado. Em vez de terem que dar apoio ostensivo a ele, botam a mim no ar e ninguém pode dizer nada. (...) Isso não ocorreu da outra vez. Essa é uma solução, digamos, indireta, né? (...) Ouço muita gente que não votaria nele por causa do PFL e que vai votar por causa de mim".
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Tornou-se impossível a permanência de Ricúpero no cargo. Anunciou seu pedido de demissão no dia seguinte, em uma carta lida em tom emocionado e com algumas lágrimas. Alegou que, por estar muito cansado e entretido em conversa "inteiramente particular ", teria dito "palavras que não refletem o que penso ou o que sinto. Em alguns daqueles comentários nem eu mesmo me reconheço. (...) Não hesito em pedir desculpas quando erro. Faço-o agora, por tudo o que possa ter decepcionado quem quer que seja. Faço o também pela referência aos empresários brasileiros ao generalizar comportamentos individuais que já havia condenado". Declarou que a frase sobre não ter escrúpulos se referia apenas à conveniência de divulgar indicações favoráveis sobre os índices de inflação para favorecer a estabilidade dos preços. Negou articulações com a Rede Globo: "Meus comentários pessoais sobre os possíveis efeitos do Plano Real nas eleições e sobre a cobertura do plano pelos meios de comunicação não foram mais do que impressões superficiais. Eles carecem de qualquer base concreta que os possa justificar". E terminou citando palavras de Jó e o Salmo 32. Semanas depois, intimado a depor pela Justiça Eleitoral sobre a conversa com Monforte, Ricúpero voltou a ser apenas o diplomata frio e calculista. Nem sinal do beato ou do coitado arrependido. Declarou ter citado a Globo de forma genérica, querendo tratar da mídia em geral, e que em nenhum momento falava de qualquer candidato: o pronome "ele " designava o plano econômico, e não FHC; e a frase "isto não ocorreu da outra vez" lembrava apenas a primeira fase do Plano Real, e não 1989.
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Por que o Cloaca News está recuperando esse triste episódio da vida nacional? - é a pergunta que você deve estar fazendo, não é? A resposta talvez esteja nas xexelentas páginas digitais de O Globo de hoje, sexta-feira, abrigada sob o seguinte título: 'The Economist' critica Lula e Tarso por concessão de refúgio a Battisti.
É que já perdemos a conta de quantas reportagens foram publicadas pela chamada imprensa internacional com pautas positivas sobre o Brasil no Governo Lula, e que esses sicofantas do jornalismo caboclo esconderam de seus leitores. Para eles, como qualquer um pode constatar, notícia ruim é notícia boa. E vice-versa. Você bota fé nesses sem-vergonhas?
10 comentários:
Li isso na edição impressa (pg. 10). Está nítido a luta ideológica. Todas as organizações italianas que protestam contra o exílio politico de Battisti no Brasil, são conservadoras, de direita. A própria revista britânica deixa escapar seu viés conservador quando alfineta o governo brasileiro por ter em seus quadros "representantes que atuaram na extrema-esquerda na década de 70". Ou seja, se fossem representantes da extrema direita, ou cínicos como o ex-ministro citado aqui, tudo bem, nosso governo seria "sério", "racional", e com toda certeza tomaria a decisão "ética" de deportar Batisti para a Itália.
Aff! Esse jornal me cansa e me revota!
Por uma infelicidade do destino - e total falta do que fazer - já assisti uma palestra desse senhor numa Universidade bem tradicional aqui de São Paulo; na ocasião, ele simplesmente metia o pau no governo Lula por conta da política do Governo para com a Venezuela e com a Bolívia - aquele blá blá de quinta categoria que estamos cansados de ver nos meios de comunicação noticiosos, mas que saídos da boca de um diplomata revoltam pra caramba, porque aí não se trata de um idiota útil, mas de uma pessoa que...no fundo não tem escrúpulos mesmo...
Quanto ao caso Battisti, se você examina os fatos, o contexto social, o processo, o longo dossiê que Fred Vargas fez, você percebe, se tiver o minímo de dignidade, que esse homem virou o bode expiatório dos anos de chumbo na Itália; o discurso contra o Brasil é meramente político; ele deve ser deportado porque foi condenado na Itália que é um país democrático tem uma justiça infalível blá blá analise os fatos como fez Maria Inês Nassif para a Valor e verá que o processo que o condenou é uma aberração.
Nesse momento se unem a extrema-direita italiana, a esquerdinha tacanha de lá - que há muitas décadas é vendida - querendo rifar um ser humano e a oposição brasileira, sempre ridícula e oportunista. É muito pra minha cabeça.
A esquerda vendida italiana é de fazer inveja em cristãos novos como Miriam Leitão e Demetrio Magnoli. Um amigo meu que foi militante comunista, depois de morar na Itália tem tanta raiva do partido comnista quanto do psdb. na prática, eles foram responsáveis por executar políticas extremamente neoliberais. Não apresentavam a vertente ultra excludente do fascistóide midiático de agora, mas mercfantilizaram mui8ta coisa quqe não deveriam...
A grande tese que tem sido levantada em relação à condenação de Battisti é o do "livre convencimento do juíz". Ora essa, quer dizer que se um magistrado se convencer que eu sou culpado de algo sem ter provas suficientes...eu vou ser condenado?
Nem q nao fossem sem vergonhas. Só por trabalharem na Der Göbbels, merecem mofar numa penitenciária lotada.
E aqí qero deixar 1 pergunta q me veio e nao paro de me fazer:
Se existe 1 Trbunal Internacional Contra Crimes de Guerra, porq nao termos 1 Trib, Intern. Contra Crimes Economicos?
Inté,
Murilo
A parabólica lembrou-me desta, também raio-x de caráter :
http://www.youtube.com/watch?v=c_2csPaWL4s&eurl=http://asultimas.com.br/?page_id=6&feature=player_embedded
Mais uma da REDE BOBO!
cloaca:
no blog do luis nassif parte da conversa entre fhc e andré lara resende ao acertar apoio ao daniel dantas nas privatizações.deixo a sugestão.
um abraço.
romério
Deixa os caras deitarem a falação deles. Será que a TIM vai desistir do seu rentável negócio no Brasil para apoiar as "vanguardas" italianas em defesa da democracia? Nós somos O BRASIL, com letras maúsculas. Um país com sua soberania, ao contrário dos palestinos que nem pátria tem e por isso comem "o pão que o diabo amassou". Se eu fosse o Lula, mandava confiscar as terras na beira das praias de Macéio que os italianos compraram e proíbem os brasileiros de frequentar. Sobre isso ninguém fala....
A ideologia manda proteger um homem condenado por assassinato, mas deporta em dois dias atletas cubanos que desertaram da Cuba-prisão... Isto é Justo?
E Ricupero? Tirando algumas vaidades pessoais, ele foi condenado por dizer verdades que todos praticam ou praticaram constantemente neste e em outros governos... Preferimos a hipocrisia, não é?
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