domingo, 3 de maio de 2009

DOMINGÃO DO CLOACÃO

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Enquanto a imprensa cabocla esfalfa-se atrás de uma peste para derrubar o Presidente Lula, desopile-se aqui
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Selecionamos mais uma singela crônica do escritor e jornalista maranhense Lago Burnett, do livro "A Língua Envergonhada", coletânea publicada em 1976, “revista e aumentada” em 1991. O texto a seguir foi publicado originalmente em 14 de abril de 1971, no finado Diário de Notícias, do Rio de Janeiro.
OS PALAVRÕES Não é pouco o que o homem sofre, desde o nascimento. Na doce algazarra do Veloso, meditávamos, um domingo, Carlos Alberto Teixeira e eu, partindo de uma observação dele sobre os muitos insultos que a gente é obrigado a levar para casa. Admira que a censura, tão zelosa na contenção dos palavrões, não tenha ainda retirado de circulação centenas de nomes feios que jamais deveriam ter saído daquele "estado de dicionário" a que se refere Drummond. Mal (ou bem) nascidos, tacham-nos de nascituros e até a morte, quando nos acondicionam em féretros, são muitas as humilhações vocabulares. Se casamos, viramos cônjuges; se permanecemos solteiros, nos chamam de celibatários. Na rede bancária é, com certeza, onde a descortesia nos atinge mais impiedade: somos tomadores, sacados, endossantes. Na Justiça ou polícia, não passamos de depoentes, manteúdos, de cujos, declarantes ou liticonsortes. Até mesmo no edifício onde moramos temos cognome: somos condôminos. Escritor que entra na Academia vira recipiendiário, enfermo é paciente, poeta é vate, menestrel bardo, aedo ou rapsodo. Quem não tem casa é inquilino ou locatário. Para aumentar a confusão, já houve quem quisesse, neste país, que motorista fosse tratado por cinesíforo, piquenique por convescote e futebol por balipodo. Meu Brasil, eu te amo! Ai, que saudade de São Luís, onde a vida decorre tão sem pressa, que as pessoas se dão ao luxo de usar polissílabos e paroxítonos! Humilha saber que, na vida, não passamos de usuários, optantes, aficcionados, litigantes, querelantes, contribuintes, emitentes, circunscritos, mutuários, segurados, beneficiários, convocados, confrades, correligionários, pensionistas, cooperativados, inadimplentes. Como sair desse preciosismo gongórico? O jeito é revidar. Como dizia aquele torcedor pouco letrado, ante a iminente derrota do seu time: "Arrecua os rafes pra evitar a catastre!" Se, alhures, alguém obtemperar, de inopino, de forma assaz peremptória, que é improfícuo o embate, a gente, de bom alvitre, se escafede e dá às de Vila Diogo, não obstante o óbvio e ingente afã de ir à liça. Dizer palavrões, afinal, não é privilégio só do Estado e das instituições, como diz Leila Diniz. Dela por exemplo, diz-se que que os emprega com muita propriedade: fá-lo com graça. E não disputa, na Praça Tiradentes, a volta do teatro picaresco. E, por falar em teatro, diante de tudo aqui exposto, teve razão de ser, algum dia, a campanha "Vamos ao Teatro"? Se, aqui fora, na rotina do dia-a-dia, estamos sujeitos a toda sorte de insultos, inclusive cardíacos, por que buscá-los nas casas especializadas do ramo? Mero signatário no momento, postulante de uma vida melhor quase sempre, sou, como toda gente, uma vítima de rótulos eventuais. Mas, ao fim de um dia de inevitáveis classificações, consola constatar, a sós, despidos de etiquetas e letreiros, que não somos requerentes, apelantes, promitentes, votantes ou recenseados. Somos gente, simplesmente. E é nessa humilde condição que reivindicamos à Comissão Internacional dos Direitos do Homem a inclusão de um item contra esse abuso discriminatório que avilta a espécie e despersonaliza o indivíduo.
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O Departamento de Dragagem do Cloaca News informa: agora, na Folha de S.Paulo, os restaurantes também voam.
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8 comentários:

Anônimo disse...

PORQUE SERÁ QUE OS APOSENTADOS NÃO FISCALIZAM O DINHEIRO QUE ENTRA NO INSS? TEM CAROÇO EMBAIXO DESSE ANGU.

Anônimo disse...

Digno de um poeta!

Midia Terrorista disse...

E esse restaurante alado, da folha de são paulo, possui uma PISTA de dança que, no momento, não poderia ser usada pela falta de gruving. Esse Governo LULA ainda irá provocar um acidente e serão contablizados vários corpos de dançarinos sem vida no chão dessa pista.

Mack disse...

É capaz de aparecer algum babaca do dem/psdb querendo uma CPI para descobrir o culpado pela luz de velas. Afinal a partir dai é possível reativar o "apagão aéreo".

Apenas, Marcia disse...

Hilário, essa da Folha.

|REDE|BLOGO| disse...

NÃO É ATOA QUE O CLOACA NEWS ESTA NA |REDE|BLOGO|.

:-)

Anônimo disse...

Aterrissa no meio do Jardins... Seria a Estação Espacial Internacional visitando as cidades mais populosas do mundo?

zejustino disse...

RECIPIENDIÁRIO não seria uma outra denominação para tocha humana?;-)