terça-feira, 16 de julho de 2013

PASSE LIVRE EM PORTO ALEGRE - ZERO HORA LEVA JORNALISMO AO FUNDO DO POÇO




O tabloide gaúcho Zero Hora, braço impresso da organização mafiomidiática RBS, conseguiu superar seu próprio recorde de sabujismo e de sem-vergonhice jornalística, além de prestar um grandioso desserviço à população. 

Na noite desta segunda-feira, 15, em sua edição digital, o jornalixo apresentou trechos de uma entrevista feita com o prefeito de Porto Alegre, o lenhador José Fortunati, a propósito da ocupação da Câmara Municipal por integrantes do Bloco de Luta pelo Transporte Público. De joelhos dobrados, a repórter escalada para a tarefa faz a primeira pergunta, levantando a bola para o chefe do Executivo dizer o que já havia combinado com o editor, no caso, que o "prefeito descarta passe livre em Porto Alegre".

"Zero Hora — Há possibilidade de instituir o passe livre para estudantes e desempregados em Porto Alegre?"

A resposta, seca como um Merlot 2005 do Vale dos Vinhedos, trouxe uma revelação extraordinária.

"José Fortunati — Não. Em Porto Alegre nós já temos passe livre para os alunos das escolas municipais e estaduais. As pessoas não sabem disto, mas já existe."

Uau!!! O maior prefeito que a capital gaúcha já teve (1,98m) acabara de dizer que, em Porto Alegre, já existe o passe livre para os estudantes, mas que o povo dormita na ignorância do fato. Quer dizer, então, que aquele pessoal todo acampado no plenário da Câmara Municipal há dias, sem tomar banho e se alimentando de marmitex, está fazendo papel de trouxa? Ei, otários, desocupem imediatamente a Casa do Povo! Vocês estão muito mal assessorados. Não ouviram o prefeito dizer que já existe passe livre em Porto Alegre? Como é que vocês, estudantes profissionais, não sabiam disso? 

A questão é que, segundo o próprio Fortunati, "as pessoas não sabem disso". Mais curioso ainda é que a repórter, genuflexa, seguiu em frente, sem questionar o alcaide sobre a "existência" súbita de espampanante benefício. Como diria o grande humanista contemporâneo Boris Casoy, até mesmo o mais humilde gari, do alto de sua vassoura, teria replicado ao Grande Homem Público que raio de passe livre é esse!!! "Como é que nóis faiz pra usufruir desse direito, senhor doutor prefeito?", quereria saber qualquer porto-alegrense. Qualquer um, exceto Zero Hora e seu jornalismo-cidadão, preocupado mesmo é com a saúde financeira e com o lucro gordo das empresas de ônibus - permissionárias de serviço público, convém não esquecer. 

Mais adiante, já lambendo os sapatos número 45 do Magrão, a moça pergunta se ele, prefeito de Porto Alegre, já estava ciente de que, no final da tarde, uma juíza havia determinado a suspensão da ação de reintegração de posse na Câmara Municipal. "Não vi. Mas está bem", disse ele, revelando, por tabela, seu grau de interesse pelos assuntos da cidade que governa. 

Abaixo, copiamos o texto da histórica entrevista, considerando que ZH tem o saudável hábito de fazer sumir os links de suas reporcagens antológicas. 

Prefeito José Fortunati descarta passe livre em Porto Alegre
Chefe do Executivo disse município já fez tudo que podia com relação à redução da passagem

Letícia Costa
leticia.costa@zerohora.com.br

Em entrevista ao jornal Zero Hora, na noite desta segunda-feira, o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, alegou que o município já fez tudo que podia com relação à redução da passagem do transporte coletivo. Mesmo com a pressão popular, com a ocupação do plenário da Câmara de Vereadores [sic] desde quarta-feira, ele alega que não há possibilidade de instituir atualmente o passe livre para estudantes e desempregados. Apostando na licitação que deve ser aberta no final do ano para uma mudança na qualidade e preços do transporte coletivo, Fortunati diz que o orçamento já está sendo prejudicado pela isenção do ISSQN que reduziu a passagem de ônibus para R$ 2,80 no começo do mês. Confira alguns trechos da entrevista:
Zero Hora — Há possibilidade de instituir o passe livre para estudantes e desempregados em Porto Alegre?
José Fortunati — Não. Em Porto Alegre nós já temos passe livre para os alunos das escolas municipais e estaduais. As pessoas não sabem disto, mas já existe.
ZH — E por que não se pode estender para desempregados?
Fortunati — Em primeiro lugar, porque é muito difícil estar acompanhando quem está desempregado ou não. Obviamente alguém tem de pagar a conta. A verba poderia vir via verba federal, pegar um recurso do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Precisa ser um política nacional.
ZH — A proposta dos manifestantes é de que as próprias empresas cubram o valor das passagens gratuitas, sem envolver governos. Isto é viável?
Fortunati — Claro que não. Vamos fazer uma licitação do transporte coletivo no final do ano e uma das condições é por menor preço. Neste momento não tem como mudar pura e simplesmente a planilha, até porque é pública. Vamos preparar a licitação e, a partir dela, quem oferecer as melhores condições vai vencer. Se algum empresário oferecer passe livre para desempregado, isso vai contar. Se algum oferecer passe livre para estudantes como vantagem vai constar como ponto positivo.
ZH — A pressão popular pode ajudar a prefeitura a avaliar uma possível mudança?
Fortunati — Não tem mais como. Já abri mão do ISS, de R$ 15 milhões que está fazendo falta no Orçamento Participativo. O que o município podia fazer, fez. O próximo passo agora é licitação do transporte coletivo.
ZH — De que forma você está se envolvendo com a ocupação da Câmara de Vereadores [sic] por manifestantes?
Fortunati — É um poder independente, só prestei minha total solidariedade, porque acho que é muito perigoso nós assistirmos ao Poder Legislativo sendo cerceado e a uma decisão judicial não sendo cumprida. São dois poderes para mim que foram afrontados.
ZH — Acha que deve ocorrer a intervenção da Brigada Militar?
Fortunati — Isso é outro poder, não é comigo.
ZH — O senhor viu que no começo da noite a Justiça desistiu da reintegração de posse?
Fortunati — Não vi. Mas está bem. Respeito as decisões judiciais. Acho que quando começamos a desrespeitar e rasgar decisões judiciais e afrontar o Legislativo, não permitindo que trabalhe normalmente, é muito perigoso. Esta história começa desta forma e termina de forma autoritária, isso me preocupa.